Se você já conferiu aqui histórias de ditaduras no Brasil, Argentina, Chile, agora chegou a vez do Uruguai. O país foi uma das últimas vítimas da Operação Condor e viveu sob regime militar por 12 anos, entre 1973 e 1985. A forma como ocorreu no Uruguai foi diferente da dos vizinhos, porém a prática dos militares seguiu a mesma cartilha de autoritarismo, com muita violência, como você confere agora.
Diferenças do Uruguai e Brasil
O principal ponto de diferença da ditadura do Uruguai em comparação com a do Brasil, Argentina e Chile é que lá o golpe contou com a participação de um presidente eleito democraticamente. A história da ditadura no Uruguai começa a ser construída ainda na década de 60, com movimentos semelhantes aos dos vizinhos, só que o país tinha suas particularidades.
Por muitos anos com boas condições sociais em comparação com a região, o Uruguai começou a atravessar uma crise econômica. Surge então um grupo de luta armada, o Movimento de Libertação Nacional-Tupamaros (MLN-T), além da guerrilha urbana com assaltos a clubes de armas e bancos para se financiarem e também ajudar a população.
O grupo buscava encontrar documentos para comprovar a corrupção governamental. Entre os membros do grupo estava Pepe Mujica, que foi presidente do Uruguai entre 2010 e 2015.
Eles entravam em conflito com o Esquadrão da Morte, grupo de extrema-direita do país que perseguia pessoas de esquerda. Para enfrentar o MLN e não permitir que ganhassem mais apoio popular, o presidente Jorge Pacheco Areco começou a rasgar a constituição e a implantar medidas autoritárias, como a suspensão do Habeas Corpus, invasões de casas, prisões arbitrárias e censura aos meios de comunicação.
Pressão militar
Em 1971, foi eleito Juan María Bordaberry, que cria um estado de guerra interna para dar mais poder ao exército. Sem apoio popular, com apenas 22% dos votos, Bordaberry logo foi engolido pelos militares, e para ele restou apenas fazer um acordo, criando uma coparticipação dos militares no comando do país.
Os militares aumentaram a repressão e solicitaram a cassação do senador Enrique Erro, da Frente Ampla, opositor dos militares. O congresso rejeitou, o que fez com que os militares considerassem isso uma provocação subversiva. Junto com o presidente, eles decretaram a dissolução da câmara em 27 de junho de 1973.
Investimento dos EUA
Paralelamente, os Estados Unidos financiavam causas contra a esquerda, assim como ocorreu em quase toda a América, em uma tentativa de apagar qualquer possibilidade de expansão do comunismo no continente. Os norte-americanos financiavam grupos radicais e investigavam organizações políticas e sociais do Uruguai, disseminando propaganda pró-EUA e anticomunista.
Após o fechamento das câmaras, houve uma greve geral de trabalhadores no Uruguai, que foi reprimida violentamente pelos militares, um sinal do que viria pela frente. Era o começo de um regime que perseguiu, censurou, prendeu, matou e torturou opositores, acabando com todos os direitos individuais.
Em 1976, deveriam ocorrer novas eleições, mas Bordaberry propôs uma reforma constitucional proibindo a circulação de ideias marxistas e eliminando a democracia representativa. Os militares, percebendo que não havia mais necessidade de mantê-lo, decidiram destituí-lo.
Governo ditatorial
No comando do país foi escolhido Aparício Méndez, que anos antes havia sido acusado de fazer apologia ao regime fascista de Mussolini. Vale notar que muitos apoiadores de ditaduras na Argentina, no Chile e no Brasil eram defensores ou admiradores de regimes fascistas e nazistas. Isso nunca foi uma preocupação para os Estados Unidos, mas qualquer ideia mais à esquerda era rapidamente reprimida.
Ditadura Militar e a violência no Brasil que vemos hoje
Ao assumir, Méndez assinou uma série de atos institucionais, incluindo um que proibia toda atividade política no país. Durante esse período, o governo aumentou a repressão, criando centros clandestinos para tortura de presos políticos. O filme ’12 anos’ mostra as prisões e torturas vividas por Mujica durante a ditadura uruguaia. Ao todo, 200 pessoas foram assassinadas e 196 desapareceram por responsabilidade do governo militar.
Fim da Ditadura
O governo começou a se enfraquecer nos anos 80. Em 1981, uma recessão econômica grave aumentou a insatisfação popular, gerando manifestações. Em 1983, um grande ato no Obelisco de Montevidéu contou com a presença de muitas pessoas e o ator Alberto Candeau proclamou o ‘Uruguai sem exclusões’. Diante disso, os militares não tiveram outra escolha a não ser abrir eleições em 1984. Julio María Sanguinetti, do Partido Colorado, foi eleito presidente com 41% dos votos, encerrando assim a ditadura no Uruguai.
Nos anos 2000, ocorreram diversos processos judiciais no país em nome das vítimas da ditadura, acusando torturadores e agentes do governo militar, muitos dos quais ainda estão em andamento.