O que não te contam da Semana de Arte Moderna de 1922

A Semana de Arte Moderna foi uma manifestação artístico-cultural que ocorreu entre os dias 13 e 18 de fevereiro de 1922, no Theatro Municipal de São Paulo. O evento contou com diversas apresentações de música, dança, poesias, pinturas, esculturas e palestras.

Os artistas – e entre eles estavam Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Anita Malfatti, entre outros – traziam uma nova visão de arte, com estética inovadora. Mas, por outro lado, passou longe de representar a sociedade brasileira, como você confere neste episódio.

Características do movimento modernista de 1922

Muitas coisas naqueles dias chocaram a população, com características como:

  • Ausência de formalismo
  • Ruptura com academicismo e tradicionalismo
  • Valorização da identidade e cultura brasileira
  • Crítica ao modelo parnasiano
  • Influência das vanguardas artísticas europeias (futurismo, cubismo, dadaísmo, surrealismo, expressionismo)
  • Fusão de influências externas com elementos brasileiros
  • Liberdade de expressão
  • Experimentações estéticas
  • Aproximação da linguagem oral, com uso de linguagem coloquial e vulgar
  • Temáticas nacionalistas e cotidianas

Após a Semana de Arte Moderna, também foram criadas inúmeras revistas, movimentos e manifestos. Sem dúvidas, coisas muito impactantes e que merecem ser reverenciadas até os dias de hoje

O outro lado da Semana de Arte Moderna

Porém, existe um outro lado da Semana de Arte Moderna. Assim como sempre falamos aqui, existe sempre um Outro Lado da História, que não é explorado, exatamente porque não é do interesse de quem fabrica a história brasileira, de quem tem os holofotes no Brasil.

A Semana de Arte Moderna ocorreu em 1922, apenas 34 anos depois da abolição da escravatura, e em uma época em que as mulheres sequer podiam votar. Isso em um país em que 71,2% dos brasileiros eram analfabetos.  

Enquanto isso, o protagonismo do evento foi quase que total de filhos da elite paulistana, cujos pais eram ex-senhores de engenho

Todo o projeto e financiamento em torno daquela semana ocorreu através de grandes produtores de café, em um período pós-Convênio de Taubaté, no qual o governo garantia a compra do excedente do café, gerando lucro para os cafeicultores e prejuízo para o Estado. Vivíamos o período da República do Café com Leite, em que partidos paulistas e mineiros dominavam o país.  

Por mais que tenha surgido de um grupo de artistas com um espírito vanguardista para o seu tempo, foi uma extensão do que já se via no Brasil Colônia: a elite econômica (os cafeicultores) ditando a identidade cultural, reforçando apagamentos históricos, como, por exemplo, o da arte africana, considerada primitivista.

E quando elementos culturais de indígenas e africanos eram apresentados, muitas vezes eram resignificados, transformados por visões europeias. Por isso, muitos historiadores criticam que não havia ali uma arte representativa de toda a sociedade brasileira.

Era da elite para a elite.

Exclusões e omissões no movimento modernista

A Semana era da elite. Tanto que autores como João do Rio e Agrippino Grieco, que já tinham uma postura modernista, não foram chamados. Já tínhamos Pixinguinha, exportando a música feita aqui, e João da Baiana, que sequer foram cogitados para o evento, exatamente porque não foi considerada a música popular

Assim como, apesar de se falar em modernismo, havia baixa participação feminina e de negros.  

E aqui não é nenhuma acusação de preconceito específico, principalmente dos participantes – embora, claro, possa ter existido por parte de alguns.

Mas é uma crítica à ideia de arte no Brasil que é enraizada até os dias de hoje. Como já falamos em episódios sobre a história do funk e do samba, esses gêneros enfrentaram muito preconceito.  

Aqui no Brasil, muitas vezes autores, compositores e estilos musicais apreciados pela elite são tratados como de qualidade superior, moderna, mesmo que compreendidos e apreciados por uma minoria rica. Já outros estilos, que alcançam um público muito maior, mesmo que regionalizados, são tratados de forma inferior. Isso mesmo quando representam mais diretamente a sociedade do que a arte elitizada.  

E aqui, claro, não estamos diminuindo a Semana de Arte Moderna. Historicamente é importante sim. Tivemos grandes artistas, grandes obras no evento. Mas é preciso fazer esta reflexão crítica, porque não é apenas o que é feito pela elite ou para a elite que é de qualidade.   

Na descrição, você confere alguns links com posicionamentos de historiadores e especialistas em artes sobre a Semana de Arte Moderna.


Destaques da Semana de Arte

  • A Semana de Arte Moderna ocorreu de 13 a 18 de fevereiro de 1922, no Theatro Municipal de São Paulo.
  • Foi financiada por produtores de café, durante a República do Café com Leite.
  • Apenas 34 anos após a abolição da escravatura, em um Brasil com 71,2% de analfabetismo.
  • Autores negros, músicos populares e mulheres tiveram baixa ou nenhuma participação.
  • Elementos indígenas e africanos foram resignificados por uma ótica europeia.
  • João do Rio, Agrippino Grieco, Pixinguinha e João da Baiana não foram convidados.
  • Criação de revistas e manifestos veio após o evento, fortalecendo o movimento modernista.
  • Apesar da proposta inovadora, a arte representada era da elite para a elite.

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  1. “A Semana de 22: Antes do Começo, Depois do Fim” – José de Nicola e Lucas de Nicola https://amzn.to/4jgfbk7
  2. “O que restou de 22” – Ronald Robson e Emmanuel Santiago https://amzn.to/4jiJZkg

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