É Luiz Inácio Lula da Silva, o homem que praticamente não tem meio-termo. Uma parte da população o idolatra e a outra o odeia. Confira aqui um pouco mais sobre a história de Lula.
Trajetória de Lula
Lula nasceu em 27 de outubro de 1945 em Caetés, que até então era distrito de Garanhuns. Ele era o sétimo de oito filhos de Aristides Inácio da Silva e Eurídice Ferreira de Melo. Para fugir da fome, a família recorreu ao que muitas outras faziam na época e se mudaram para São Paulo em 1952, viajando de caminhão, o que levava 13 dias. Primeiramente ficaram em um bairro pobre do Guarujá, onde Lula foi alfabetizado, e dois anos depois foram para a cidade de São Paulo, no bairro do Ipiranga.
Lula então arruma o primeiro emprego com 12 anos em uma tinturaria. Dois anos depois, ele teve a carteira assinada pela primeira vez ao trabalhar nos Armazéns Gerais Columbia. Depois foi para a fábrica de parafusos Martins e, neste mesmo período, fez o curso de torneiro mecânico do Senai. Depois de três anos de curso, Lula tornava-se metalúrgico.
Ele então passou por diversas fábricas até se estabelecer nas Indústrias Villares, que era uma das principais metalúrgicas do país e ficava em São Bernardo do Campo, no ABC Paulista.
Movimento sindical
Através do irmão, Frei Chico, ele foi conhecendo melhor como funcionava o movimento sindical. Em 1969, então, participa da eleição da nova linha do sindicato dos metalúrgicos de São Bernardo do Campo e Diadema e fica como suplente. Três anos depois, tornou-se primeiro-secretário e, em 1975, virava presidente do sindicato com 92% dos votos, passando a representar mais de 100 mil trabalhadores.
No final da década de 70, então, surge o movimento grevista que tem em Lula um dos líderes. A campanha por melhores condições de trabalho e reajuste salarial, que sofria com o arrocho promovido pela ditadura, fazia com que os trabalhadores tivessem menos poder de compra. Foi nesta fase que Lula foi preso pela primeira vez, em 19 de abril de 1980, sendo levado para o Dops, onde ficou por 31 dias.
Os militares acreditavam que com a prisão do líder sindicalista as greves se encerrariam, porém a estratégia não deu certo e os trabalhadores seguiram com o apoio a Lula, que chegou a ser sentenciado a dois anos e seis meses de prisão, mas teve a condenação anulada pelo Superior Tribunal Militar.
Partido dos Trabalhadores
Depois de sair da prisão, com o início do processo de redemocratização do Brasil, Lula então atuou na fundação do Partido dos Trabalhadores (PT) em 1980, junto com outros sindicalistas, movimentos sociais e lideranças políticas e sociais.
Em 1982, ele participa da eleição para governador de São Paulo, mas termina na 4ª posição com 10,77% dos votos, atrás de Franco Montoro (PMDB), Reynaldo de Barros (PDS) e Jânio Quadros (PTB). Já em 1984, foi peça atuante na campanha das Diretas Já, que pediam eleições diretas para a presidência da república.
Em 1986, foi eleito deputado federal mais votado do país para a Assembleia Constituinte. No entanto, participou de todos os debates na elaboração da Constituição de 1988, mas não aprovou o texto final. A ligação dele com o PT levou ao reconhecimento de que a constituição trouxe avanços na área social, mas ele considerava que o resultado final ainda estava aquém das necessidades dos trabalhadores.
Depois disso, Lula foi escolhido para disputar a eleição de 1989 pelo Partido dos Trabalhadores.
Eleições perdidas
Depois de 29 anos, o Brasil finalmente escolheria um presidente através de eleições diretas em 1989. Foi uma festa da democracia, com 22 candidatos disputando o cargo mais importante do país. Além de Lula e Fernando Collor, havia nomes como Leonel Brizola, Fernando Gabeira, Enéas Carneiro, Mário Covas, Paulo Maluf, Ulysses Guimarães, entre outros.
Todos participaram dos debates, mas foi Lula que venceu o duelo particular com Brizola, garantindo o segundo lugar com 17,18% dos votos e avançando para o segundo turno com Collor, que já liderava as pesquisas.
Com o segundo turno estabelecido, restava a Lula, Brizola, Covas e Maluf convencerem o eleitorado. Collor começou o segundo turno com cerca de 30% das intenções de voto, enquanto Lula tinha 17%.
Durante essa fase, houve uma série de ataques e especulações contra a candidatura de Lula, incluindo falsas ligações do PT a um grupo criminoso que sequestrou o empresário Abilio Diniz. Essa especulação só foi desmentida pela grande imprensa após a eleição.
Além disso, houve manipulação no debate de 14 de dezembro, uma semana antes da votação. Anos depois, Boni, um dos diretores da Globo, admitiu ter ajudado Collor na preparação do debate, incluindo pastas falsas de acusações contra Lula. O resultado foi uma vitória de Collor com 53,03% dos votos contra 46,97% de Lula, uma eleição muito apertada.
Lula voltou a disputar as eleições em 1994 e 1998, mas foi derrotado por Fernando Henrique Cardoso nas duas vezes. Ele conseguiu mais votos em ambas, mas ainda assim não foi suficiente.
Lula eleito
Após essas derrotas, Lula começou a revisar sua imagem e estratégias. Muitas pessoas o viam como radical, então ele decidiu suavizar sua imagem para a eleição de 2002. A mudança mais significativa foi a publicação da ‘Carta ao Povo Brasileiro’, em 22 de junho, na qual ele prometia responsabilidade fiscal e controle das contas públicas, acenando para o mercado financeiro.
Além disso, Lula escolheu um vice mais conservador, José Alencar, do PL. Essa combinação ajudou a ampliar o apoio dele que finalmente venceu as eleições de 2002 com 46,44% dos votos no primeiro turno e 61,27% no segundo. Com essa vitória, o PT também conseguiu eleger 91 deputados, o melhor desempenho de um partido de esquerda na história do Brasil.
Governo Lula 1
A história de Lula no Governo começou com uma reforma da Previdência, já discutida desde o governo FHC, e que foi feita no primeiro ano de mandato. Isso causou tensões internas, levando alguns membros do PT, como Luciana Genro, Heloísa Helena e Chico Alencar, a deixarem o partido e fundarem o PSOL.
No entanto, o governo também foi marcado por conquistas, como o lançamento do programa Fome Zero, que visava erradicar a fome no Brasil. Em 2002, quando Lula assumiu, 44 milhões de brasileiros viviam com menos de um dólar por dia, em situação de insegurança alimentar.
Em 2004, o governo lançou o Bolsa Família, que unificou programas existentes como o Bolsa Escola e o cartão de alimentação, e ampliou o alcance para 12 milhões de famílias. No entanto, em 2005, o governo foi abalado pelo escândalo do mensalão, revelado por Roberto Jefferson. Embora Lula não tenha sido formalmente acusado, o caso impactou sua popularidade, que caiu de 59% para 50%.
Apesar das dificuldades, o governo Lula conseguiu bons resultados econômicos. O PIB cresceu acima de 3% em três anos consecutivos, com um pico de 5,76% em 2004. Além disso, a pobreza caiu de 27,95% para 19,09%, o desemprego recuou, e a dívida com o FMI foi quitada. O salário mínimo teve ganho real acima da inflação, subindo de 200 para 350 reais. Programas como o Luz para Todos levaram energia elétrica para milhões de pessoas, e o ProUni beneficiou jovens de baixa renda com bolsas universitárias.
Governo Lula 2
Com esses resultados, Lula foi reeleito em 2006 com mais de 58 milhões de votos, a maior votação da história do Brasil até então. No entanto, novos desafios aguardavam o presidente no segundo mandato, e também depois que ele deixou o cargo.
O segundo mandato de Lula começou com o PAC, que significa Programa de Aceleração do Crescimento. Era um conjunto de projetos e obras de infraestrutura para diversos setores, como rodovias, aeroportos, portos, geração de energia, entre outros.
Com o projeto inicial apresentado em janeiro de 2007, o investimento foi de pouco mais de 500 bilhões de reais. O objetivo era fazer com que a economia girasse, gerando empregos e garantindo um crescimento do PIB de pelo menos 5% todos os anos até o final do mandato.
No final, 46,1% das obras foram concluídas, o que gerou algumas críticas, mas os resultados foram relevantes. O PIB cresceu 6,07% em 2007, 5,09% em 2008 e 7,53% em 2010. A única exceção foi 2009, quando teve um recuo de 0,13% devido à crise econômica global gerada pela bolha imobiliária nos Estados Unidos. Lula mencionou na época que a crise, que afetava gravemente os EUA, seria uma ‘marolinha’ no Brasil, e na prática foi assim, com um impacto muito menor por aqui.
Além do crescimento do PIB, o segundo mandato de Lula focou na redução da pobreza. A pobreza foi reduzida de 19,09% da população para 13,57%. O salário mínimo teve um aumento real acima da inflação, alcançando 9% ao ano, mais do que o registrado no governo FHC. No segundo mandato de Lula, o salário mínimo saltou de 350 reais para 510 reais, e o desemprego caiu para 6,7%, a menor taxa da história até então. Foram criados 6,58 milhões de empregos formais.
Durante esse período, também começou a exploração do pré-sal, e o governo reformulou programas como o FIES, ampliando o financiamento para até 100% dos cursos superiores e diminuindo as taxas de juros. Além disso, o ProUni continuou expandindo, concedendo mais de 200 mil bolsas parciais e integrais a partir de 2009.
Pós-Governo
Com uma aprovação de 87% no final do mandato, Lula escolheu Dilma Rousseff como sua sucessora. Ela foi eleita no segundo turno em 2010. Apesar da boa avaliação do governo, Lula enfrentou críticas da direita, que acusava seu governo de loteamento de cargos estatais em troca de apoio. Já da esquerda, ele recebeu críticas por não ter avançado em pautas como a reforma agrária e a taxação de grandes fortunas.
Após deixar o cargo, Lula criou o Instituto Lula e passou a dar palestras internacionais sobre combate à fome. Em 2011, ele foi diagnosticado com câncer na laringe e precisou fazer tratamento. Em 2016, surgiram as acusações relacionadas ao tríplex do Guarujá. Lula foi acusado de ter recebido o apartamento como propina da empreiteira
OAS, e o juiz Sérgio Moro o condenou a nove anos e seis meses de prisão. O caso ficou marcado pela divulgação de uma escuta telefônica entre Lula e Dilma, usada para alegar que o ex-presidente buscava foro privilegiado ao aceitar um cargo de ministro.
Após ser preso em 7 de abril de 2018, quando liderava as pesquisas de intenção de voto, Lula ficou 580 dias na prisão. Em novembro de 2019, o STF entendeu que a constituição não permitia a prisão após condenação em segunda instância. Depois, em março de 2021, o STF anulou as condenações, alegando que a vara de Curitiba não tinha competência para julgar o caso. Agora, em 2022, voltou a ser candidato e eleito Presidente do Brasil.