A história de Nã Agotimé, também chamada de Mãe Agotimé ou Maria Jesuína no Brasil, é uma das narrativas mais marcantes de resistência cultural afro-brasileira. Confira a história da rainha que foi escravizada no Brasil e transformou-se em símbolo de resistência espiritual e preservação das tradições africanas.
Origens Reais no Daomé
Nascida entre os povos Mahi, de língua iorubá-nagô, Nã Agotimé foi aprisionada ainda jovem com seu pai e levada ao Reino do Daomé, atual Benim. Lá, tornou-se uma das oito esposas do rei Agonglo. Com ele, teve um filho, Gapke, que mais tarde assumiria o trono com o nome de Ghezo, governando entre 1818 e 1858.
Condenação e Escravidão
Com a morte do rei, Nã Agotimé foi alvo de intrigas políticas e acusada de traição. Por conta disso, foi vendida como escravizada e enviada para as Américas. Assim começou sua travessia forçada pelo Atlântico, como tantos africanos vítimas do tráfico negreiro.
Resistência e Herança Cultural no Brasil
Mesmo em solo estrangeiro e em condição de escravizada, Nã Agotimé não esqueceu sua origem real nem suas tradições religiosas africanas. Segundo registros, manteve vivo o culto aos voduns, divindades veneradas pelos povos Fon do Daomé, e era conhecida pelas magias de cura.
Se tornou uma figura central na fundação da Casa das Minas, em São Luís do Maranhão — um dos mais antigos terreiros de candomblé Jeje do Brasil, que se tornou referência da religião de matriz africana no país.
Maria Jesuína e o Candomblé Jeje
Em solo brasileiro, passou a ser conhecida como Maria Jesuína e atuava como sacerdotisa de Toi Zomadônu, importante vodum do panteão africano. Sua atuação foi fundamental para a organização das primeiras comunidades religiosas afro-brasileiras e para a preservação da cultura do Daomé, incluindo a língua, os mitos, as danças e os rituais.
Legado Histórico e Religioso
Hoje, o nome de Nã Agotimé é lembrado em terreiros, festas religiosas e pesquisas históricas, como as de Pierre Verger, que ajudou a traçar os vínculos entre a antiga rainha do Daomé e a Casa das Minas. Apesar das incertezas que ainda cercam sua trajetória, a importância de Nã Agotimé como fundadora espiritual de um dos maiores legados africanos no Brasil é inquestionável.
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