João Cândido, conhecido como o Almirante Negro, é um verdadeiro herói nacional. No entanto, sua história é menos conhecida porque o Brasil frequentemente valoriza apenas personagens brancos.
João Cândido nasceu em 1880. Aos 10 anos, mudou-se para Porto Alegre e entrou para a Marinha aos 14. Assim como muitos negros excluídos da sociedade, encontrou na Marinha um destino, ainda que em condições de trabalho precárias. No Rio de Janeiro, destacou-se e logo se tornou instrutor. Com o tempo, ele se tornou líder dos marinheiros, lutando contra punições e salários atrasados.
Revolta da Chibata
A Revolta da Chibata teve início em 16 de novembro de 1910, quando o marinheiro Marcelino Menezes foi punido com 250 chibatadas, uma punição pública, comum na Marinha da época. A maioria dos marinheiros era de negros ou filhos de ex-escravos, e essa prática era um resquício claro da escravidão.
João Cândido liderou a revolta, apontando canhões para a Baía de Guanabara. Após quatro dias de tensão, o governo aceitou as demandas dos marinheiros e aboliu as chibatadas. No entanto, ao desembarcar, 18 marinheiros foram presos, incluindo João Cândido. Eles foram levados para o presídio da Ilha das Cobras, onde sofreram com falta de água e comida, além de terem sido expostos a cal nas celas. Apenas João Cândido e mais um soldado sobreviveram.
Prisão e morte
Após 18 meses de prisão e idas ao hospital, João Cândido foi absolvido, mas expulso da Marinha. Sem condições financeiras, ele passou a trabalhar em pequenos veleiros e enfrentou perseguição da Marinha, que o impedia de manter empregos. Em 1920, mudou-se para São João de Meriti, onde trabalhou como descarregador de peixes, mas foi preso novamente em 1930, acusado de conspiração política.
Mesmo aos 82 anos, João Cândido apoiava novas rebeliões de marinheiros por melhores condições de trabalho, e continuou sendo vigiado até sua morte, em 1969, aos 89 anos, vítima de câncer. Em São João de Meriti, há um museu em sua homenagem. Ele também foi eternizado na canção ‘O Mestre-Sala dos Mares’, de Aldir Blanc e João Bosco, embora a ditadura militar tenha censurado o título original, que trazia a palavra ‘Almirante Negro’, para evitar menções ao termo ‘negro’.
João Cândido merece ser lembrado como um verdadeiro herói nacional. Se o Brasil valorizasse mais seus heróis negros, ouviríamos muito mais sobre o Almirante Negro.