O mundo está chocado com a crise no Afeganistão. Famílias desesperadas estão sendo perseguidas e tentando fugir do país desesperadamente após o Talibã ter tomado o poder. Para entender melhor essa situação, confira este artigo
Para entender isso, é importante voltar um pouco no tempo. O Afeganistão sofreu uma ocupação soviética entre 1979 e 1989. No entanto, os soviéticos se retiraram do país devido à resistência dos guerrilheiros islâmicos, que contavam com o apoio dos Estados Unidos e do Paquistão. Seis anos após a saída soviética, surgiu o Talibã, uma milícia islâmica fundamentalista que contava com financiamento do Paquistão. Eles dominaram o país, governando de 1996 a 2001.
Governo Talibã
Sob o governo Talibã, meninas com mais de dez anos e mulheres eram proibidas de frequentar a escola, de trabalhar, e só podiam aparecer em público acompanhadas de homens e usando roupas que cobrissem o corpo inteiro. Quem não seguisse essas regras era castigada publicamente ou até mesmo executada. Isso acontecia porque o Talibã é um grupo de estudantes do Alcorão que fazem uma leitura radicalizada do livro sagrado islâmico.
Eles acreditam que a sociedade deve viver como no passado, nos séculos 7 e 8. Além das regras para as mulheres, o Talibã também estabeleceu punições severas, como apedrejamento e chicotadas para quem não seguisse as suas regras. Filmes, livros ocidentais, artefatos culturais e outras religiões foram proibidos.
11 de Setembro
Após o atentado de 11 de setembro de 2001, nos Estados Unidos, o governo norte-americano iniciou uma guerra contra o Afeganistão, na caça ao terrorista Osama Bin Laden, responsável pelos ataques. Com isso, tiraram o Talibã do poder.
A caçada terminou em 2011, quando Osama foi morto, mas os EUA continuaram no país até a recente decisão de retirada das tropas em agosto de 2021, já com Joe Biden como presidente. Essa retirada ocorreu após 20 anos de ocupação e uma guerra com um custo elevadíssimo, sendo considerada o conflito mais caro da história.
Durante esse período, 2.300 militares americanos, mais de 450 britânicos e 60 mil soldados afegãos foram mortos, além de 120 mil civis. A guerra custou mais de 1 trilhão de dólares, sendo que apenas 4% desse montante foi destinado para ajuda humanitária e desenvolvimento do país. Com isso, o Afeganistão está prestes a voltar à situação de antes.
Volta do Talibã
Embora o país tenha visto alguns avanços, como as mulheres conquistando o direito de estudar e trabalhar, o Talibã volta ao poder ainda mais forte, com um orçamento de 8,4 bilhões de dólares, proveniente do tráfico de ópio e da extração ilegal de minérios. Assim que as tropas americanas deixaram o país, o Talibã avançou rapidamente, território por território, até chegar à capital, Cabul. O exército afegão não teve como enfrentar o grupo, e a população, com medo, não resistiu.
Com a tomada da capital, o presidente do Afeganistão, Ashraf Ghani, deixou o país. Há relatos de execuções de pessoas que apoiaram os americanos, especialmente tradutores. Além disso, combatentes do Talibã já estão batendo de porta em porta, obrigando meninas de 12 anos a se casarem com eles. Há relatos de comandantes ordenando a criação de listas de casamentos, obrigando famílias a oferecerem meninas para servidão sexual. As imagens de mulheres estão sendo apagadas de outdoors e lojas, dando uma ideia do que está por vir.
Esse medo de viver novamente sob a realidade do Talibã, de serem executados, de perderem seus direitos, é o que faz a população tentar desesperadamente sair do país antes que seja tarde. Portanto, o que ocorre no Afeganistão é algo de extrema gravidade para o mundo. É difícil imaginar essa intensidade para quem mora no Brasil, mas há alguns paralelos. A formação de milícias controlando territórios, políticos querendo impor leis e atacando grupos e crenças religiosas, assim como a destruição de espaços religiosos de origem africana, são questões que também vemos por aqui.