A virada do século XIX para o XX no Brasil é frequentemente lembrada como a Belle Époque, um período de otimismo, modernização e efervescência cultural, especialmente nas então principais cidades do país, Rio de Janeiro e São Paulo.
Inspirada nos modelos parisienses, essa era trouxe avenidas largas, iluminação elétrica, bondes, cafés chiques, teatros e uma elite que buscava avidamente espelhar os costumes europeus. Contudo, por trás dessa fachada de progresso e glamour, existia um “Lado B” sombrio e brutal para a vasta maioria da população.
A modernização foi excludente, a “civilização” importada convivia com a miséria endêmica, e o brilho da Belle Époque ofuscava uma realidade marcada pela pobreza extrema, exclusão racial e desigualdade social, como você vai ver aqui.
As Reformas Urbanas e o Projeto de Modernização
O projeto modernizador da Belle Époque teve como um de seus pilares as grandes reformas urbanas, como a implementada por Pereira Passos no Rio de Janeiro.
Inspiradas em Haussmann, essas reformas visavam “higienizar” e embelezar os centros urbanos, abrindo largas avenidas (como a Avenida Central, atual Rio Branco) e construindo edifícios imponentes.
No entanto, essa “higienização” significou, na prática, a demolição em massa das habitações populares que ocupavam as áreas centrais, principalmente os cortiços.
Essas moradias coletivas, embora insalubres e superlotadas, eram a única opção acessível para trabalhadores pobres, imigrantes e recém-libertos. A política do “bota-abaixo” expulsou essa população para as periferias distantes ou para os morros que circundavam a cidade, intensificando a formação das favelas. Enquanto a elite desfilava pelas novas avenidas, a maioria da população se amontoava em condições ainda mais precárias, longe dos olhos e das benesses da cidade moderna.
Cultura, Exclusão e Criminalização
A exclusão não era apenas residencial, mas também cultural. O ideal de “civilização” da Belle Époque era eurocêntrico e desprezava as manifestações culturais populares, especialmente as de matriz africana, vistas como “bárbaras”, “atrasadas” e associadas à desordem e à criminalidade.
Eram os casos da Capoeira, do Samba e das religiões afro-brasileiras, que foram proibidos.
Pobreza, Doença e Desigualdade
Paralelo a isso, o Rio de Janeiro ainda convivia com graves epidemias, como febre amarela, varíola e tuberculose.
Além disso, enquanto uma elite desfrutava de uma cidade em modernização, a população mais pobre vivia em jornadas exaustivas de 12 a 16 horas em fábricas, com salários miseráveis e condições de trabalho precárias. Isso ainda em um período pós-abolição da escravatura, em que não houve qualquer projeto de integração para os milhões de recém-libertos. Uma população lançada sem terras, educação e oportunidades de trabalho digno.
Vídeo sobre a política de “higienização” do Rio
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