Neste artigo você vai saber mais do debate sobre o aborto. Sua história e como a sociedade foi mudando de opinião ao longo dos anos e também a situação atual no Brasil.
A prática do aborto pode ser documentada desde sociedades antigas. Entre 2737 e 2696 a.C., o imperador chinês Shen Nung registrou uma receita de um abortivo oral. Em várias culturas, diversos métodos de aborto foram utilizados, alguns deles extremamente perigosos, como pancadas no abdômen ou longas cavalgadas.
Abortos em outras civilizações
O ponto principal é que a permissividade em relação ao aborto sempre esteve ligada à forma como a mulher era tratada na sociedade. Tanto na Grécia quanto na Roma antiga, o aborto era permitido desde que fosse uma decisão do marido. Isso porque o entendimento era que o feto fazia parte do corpo da mulher, e a mulher era considerada propriedade do marido.
Esse tipo de pensamento ainda persiste em muitos aspectos. Considerando que a grande maioria das lideranças religiosas e políticas são homens, e eles decidem não só se o aborto é permitido, mas também no que as pessoas devem acreditar.
Linha do tempo com conquistas de direitos das mulheres
Voltando à história, a posição contrária ao aborto só ganhou destaque com o crescimento do cristianismo. Ainda assim, a visão não era tão rígida como é atualmente. Tomás de Aquino, por exemplo, defendia que o feto só recebia alma após 60 dias. Então, até esse período, o aborto não era visto como um pecado.
Aborto condenado
A postura mais rígida só veio em 1869, quando o Papa Pio IX declarou que todos os abortos eram assassinatos. Essa mudança de postura ocorreu justamente em um período em que muitos líderes políticos estavam preocupados com a baixa natalidade. Em um contexto de planos de industrialização.
No século XIX, o número de abortos aumentou consideravelmente entre as classes mais pobres devido à urbanização e à mudança de uma população rural para os centros urbanos. Muitas pessoas passaram a vivenciar extrema pobreza. Gerando preocupação entre as classes dominantes, pois com a diminuição dos nascimentos, havia menos mão de obra barata disponível. Assim, a primeira grande repressão contra o aborto foi motivada por questões econômicas.
Após a Primeira Guerra Mundial, a repressão ao aborto aumentou em países envolvidos no conflito. Como a França, que criou leis severas tanto contra o aborto quanto contra métodos anticoncepcionais.
Na Itália e na Alemanha, o aborto foi duramente combatido sob o lema de ‘filhos da pátria’, com punições severas, incluindo pena de morte, considerando o aborto um crime contra a nação. Um dos poucos países a tomar uma posição contrária foi a União Soviética, que considerou o aborto um direito da mulher.
Países passam a legalizar aborto
Após a Segunda Guerra Mundial, outros países socialistas, além de escandinavos e o Japão, mantiveram a decisão de permitir o aborto. No entanto, é importante refletir que o aborto continua acontecendo.
No Brasil, o aborto é considerado crime, com pena de um a três anos, e é legal apenas em três situações: em casos de gravidez resultante de estupro, risco à vida da gestante e em casos de anencefalia do feto.
De janeiro a junho de 2020, o SUS realizou 1.024 abortos legais. No entanto, no mesmo período, o SUS fez mais de 80 mil atendimentos a complicações após abortos malsucedidos. Realizados por pessoas que não se enquadravam nas condições citadas acima, e que recorreram a clínicas clandestinas, muitas vezes com graves sequelas.
O aborto acontece, legal ou não, e é isso que precisa ser debatido. É fundamental entender que ser a favor da legalização não significa ser a favor do aborto, mas sim compreender que existe um problema social e de saúde pública. A legalização pode garantir que, se alguém optar por isso, possa fazer em um local seguro. Aliás, ser a favor da legalização nem significa que os casos vão aumentar. Se isso ocorrer, certamente haverá um protocolo, como consultas para confirmar a decisão, algo que jamais acontece em uma clínica clandestina.
O debate atual
O principal é que esse debate seja centralizado entre as mulheres, pois são elas que enfrentam os riscos e as consequências. No Brasil, mais de cinco milhões de crianças sequer têm o nome do pai na certidão de nascimento, e muitos desses pais certamente se opõem ao aborto, mas são os primeiros a fugir da responsabilidade.
Como mencionei em outros episódios, o aborto é legalizado em 63 países, como Uruguai, Canadá, Portugal, Alemanha, França, Espanha, Suécia, Holanda, Noruega e muitos outros, além de alguns estados dos Estados Unidos. A sociedade deve lutar pela vida das mulheres, e não ficar na porta dos hospitais atacando crianças que já foram violentadas.