Olá, você certamente aprendeu que após a abolição da escravatura o Brasil incentivou a imigração de europeus para o país porque precisava de mão de obra qualificada. Essa história, a princípio, até parece fazer sentido; porém, não é real.
Para explicar um pouco o que de fato ocorreu, fizemos esse vídeo. É melhor até hoje, e também valeu o trabalho com a colaboração de outros pesquisadores. Desde a Proclamação da República, o governo brasileiro começou a estimular a vinda de estrangeiros para cá.
Os italianos foram os que mais chegaram, em um número de mais de um milhão e meio entre 1889 até 1950. Outra nação que se destacou foi o Japão, cujos imigrantes também chegaram em um nível bem alto. Mas, apesar de ambos terem trabalhado no campo e desenvolvido serviços similares, os asiáticos não eram bem recebidos no Brasil. A sociedade brasileira queria que o processo de enriquecimento do país fosse feito através de europeus, e não de asiáticos, que, para eles, eram chamados de “negros amarelos”.
Chegada de Italianos e asiáticos
De qualquer forma, neste processo, tanto os italianos quanto os asiáticos chegavam ao Brasil, em grande parte, com as passagens totalmente pagas e recebiam moradias. No entanto, eles precisavam trabalhar para os colonos e teriam que pagar por todo o custo que esses tiveram para trazê-los. Então, eles ficavam presos em dívidas, quase como um sistema de servidão por dívida, em que, para sair dela, precisavam trabalhar por anos até pagar e, então, conseguir sua liberdade.
Apesar da situação difícil para eles, quem mais sofreu nesse processo foram novamente os negros. É curioso ver como a justificativa de “mão de obra qualificada” cai por terra quando se observa que, antes de serem libertos, todos os negros davam conta dos serviços e da produção.
Então, por que, depois, quando deveriam ser remunerados, não serviam mais e havia a necessidade de estrangeiros para o trabalho? Isso ocorreu porque, na verdade, o interesse não era na mão de obra qualificada. Afinal, quem já conhecia a terra e o serviço eram os negros que já estavam aqui. A questão é que, naquela época, 58% da população brasileira era constituída por negros, e a elite e o governo queriam que o Brasil passasse por um processo de embranquecimento.
Propostas de embranquecimento
Isso não é invenção; está documentado. No site da Câmara, há um documento de 1890 do Marechal Deodoro da Fonseca, no qual ele deixa claro que os portos brasileiros estavam abertos para todos os imigrantes, exceto asiáticos e africanos, que precisavam de uma licença especial para entrar. Em outro documento, mais recente, de 1945, dizia-se que todo estrangeiro poderia vir ao Brasil, desde que satisfizesse condições pré-estabelecidas, como a necessidade de preservar e desenvolver características mais convenientes da ascendência europeia.
Isso deixa claro que o objetivo era atrair brancos europeus, para que o Brasil fosse um país branco, europeu. Esse processo ocorreu baseado na crença de muitos na elite de que a raça branca era superior às demais, tanto aos negros quanto aos asiáticos. Essa ideia é similar ao nazismo. A única diferença é que no Brasil não se legalizou matar negros ou perseguir outras raças, mas deixava claro que apenas os brancos eram bem-vindos ao Brasil.
Estamos falando de 1945, algo muito recente. Provavelmente, você conhece um negro que nasceu em 1945 ou, no mínimo, conhece o filho de alguém que viveu esse processo. Isso está documentado na Constituição brasileira, afirmando que o branco era superior e que o Brasil queria que os brancos fossem os que viessem para cá.
Isso mostra como o Brasil se desenvolveu incentivando o racismo, direta ou indiretamente. Além disso, com todo esse processo, muitos negros, que haviam deixado de ser escravos, ficaram sem trabalho. Já que o serviço que produziam passou a ser ocupado pelos italianos e asiáticos, que foram incentivados a vir para o país com ajuda do governo, com toda essa gestão terrível, muitos deles acabaram voltando a se sujeitar a condições de quase escravidão, para pelo menos conseguir um lugar para morar ou, no mínimo, um prato de comida.
Estamos falando de algo muito recente na nossa história. Então, não dá para sustentar o discurso de que o racismo no Brasil não existe.