A Guerra do Paraguai, também conhecida como a Guerra da Tríplice Aliança, foi um conflito de proporções catastróficas que se desenrolou de 1864 a 1870. Nele, os países vizinhos — Paraguai, Brasil, Argentina e Uruguai — se envolveram em uma batalha sangrenta pelo poder e pelo controle das terras disputadas. Confira um pouco dessa história agora.
Três interpretações do conflito: megalomania, desenvolvimento nativo e questões fronteiriças
Primeiramente, é importante compreender que, ao longo do tempo, surgiram três interpretações diferentes a respeito do conflito.
A mais tradicional, por muito tempo, foi a de que a Guerra do Paraguai ocorreu única e exclusivamente pela megalomania de Solano López, o ditador do Paraguai.
Essa versão foi a mais comum no Brasil até os anos 60, mas ignorava diversos eventos relevantes da região da Bacia Platina.
Depois veio uma nova versão, na qual o Paraguai era apresentado como um modelo de desenvolvimento nativo que desagradava à Inglaterra. Segundo essa visão, os ingleses teriam manipulado Brasil e Argentina para destruir esse modelo econômico. Essa teoria perdurou até os anos 90, mas hoje é considerada ultrapassada e imprecisa.
Nos estudos mais recentes, identificou-se que o Paraguai não era uma nação desenvolvida. Foi governado por ditadores por décadas e permaneceu isolado do mundo exterior por muito tempo.
A modernização paraguaia sob Solano López era mais restrita aos meios militares e não alcançou outras áreas da sociedade. Durante sua gestão, também havia questões fronteiriças em disputa entre as nações platinas.
A invasão paraguaia e as respostas da Tríplice Aliança
O Paraguai tentava reforçar sua posição, a Argentina buscava consolidar seu território, o Uruguai vivia uma guerra civil e o Brasil procurava manter sua posição como potência regional.
A partir de 1862, Solano López estreitou relações com o movimento federalista que lutava contra o governo argentino e com os blancos uruguaios, que travavam batalha contra os colorados, uma facção política local.
Os colorados, por sua vez, eram apoiados pelo governo argentino e defendiam o livre comércio e a livre navegação nos rios da Bacia Platina — os mesmos interesses defendidos pelo Brasil. Com isso, em 1863, o governo brasileiro apoiou os colorados na Guerra Civil Uruguaia.
Essa medida irritou Solano López, que receava que o Brasil fosse uma ameaça à soberania paraguaia. Em agosto de 1864, o ditador deu um ultimato ao governo brasileiro para que não interferisse na política uruguaia.
O Brasil ignorou o alerta e, em setembro de 1864, invadiu o Uruguai, destituiu o governo blanco e colocou Venancio Flores na presidência uruguaia.
O Paraguai reagiu, aprisionando uma embarcação brasileira no Rio Paraguai e invadiu o Mato Grosso em dezembro de 1864. Cerca de 7.700 soldados paraguaios atacaram o Forte de Coimbra, forçando as tropas brasileiras a recuar.
Em seguida, o exército de Solano López avançou rumo ao Rio Grande do Sul com o objetivo de chegar ao Uruguai e apoiar os blancos. Porém, o presidente argentino Bartolomé Mitre negou a passagem das tropas paraguaias por seu território. A resposta de López foi invadir Corrientes, na Argentina.
Essa nova ofensiva foi um fracasso: as tropas paraguaias foram cercadas e forçadas à rendição. Outra derrota decisiva foi a Batalha do Riachuelo, em que a Marinha do Brasil destruiu grande parte da frota paraguaia. Essas derrotas, no meio de 1865, forçaram o Paraguai a assumir uma postura defensiva.
Os membros da Tríplice Aliança — Brasil, Argentina e Uruguai — organizaram os ataques seguintes na Guerra do Paraguai. Os três países assinaram um trato em 1º de maio de 1865, no qual decidiram que a guerra só terminaria com a queda de Solano López.
A mobilização da população e a guerra biológica
Apesar da desvantagem numérica, Solano López conseguiu mobilizar a população, alegando que o conflito era uma defesa da independência paraguaia.
Um ponto polêmico foi o uso da guerra biológica. Uma carta do Duque de Caxias enviada ao Imperador Dom Pedro II mencionava que cadáveres infectados com cólera teriam sido lançados no Rio Paraná com o objetivo de contaminar os inimigos.
Outro comandante, o Conde d’Eu, teria libertado soldados inimigos doentes para que espalhassem doenças entre as tropas adversárias.
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O papel dos escravizados e a comercialização de escravos
Outro ponto controverso foi o uso de escravizados brasileiros no conflito. Dom Pedro II assinou um decreto emergencial que permitia a compra de cartas de alforria para escravizados que servissem na Guerra do Paraguai.
Isso fez com que os números de comercialização de escravos aumentassem consideravelmente durante o período.
O desfecho trágico: a morte de Solano López e as consequências
Com o avanço das tropas brasileiras, o exército do Brasil chegou ao interior do Paraguai. Em 1869, Solano López passou a recrutar crianças e adolescentes para o combate.
O desfecho veio em março de 1870, quando Solano López foi morto por soldados brasileiros.
A guerra deixou o Paraguai completamente destruído e com uma enorme perda populacional — estima-se que entre 150 mil e 200 mil paraguaios tenham morrido, especialmente homens.
Do lado brasileiro, a guerra gerou grande endividamento e contribuiu para a crise do Império, marcando o início da decadência da monarquia no Brasil.
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Veja o vídeo sobre a história da Guerra do Paraguai.
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