Veja a história do cinema brasileiro neste artigo. Confira quando e como surgiu, quais foram os primeiros filmes, as transformações do cinema brasileiro e cada estilo que dominou diferentes épocas. As leis que tiveram impacto nos filmes e as produções que marcaram época.
É evidente que o Brasil não vai conseguir produzir filmes de qualidade na proporção que Hollywood. Porém, o cinema nacional também conta com uma história riquíssima. Confira as transformações que ocorreram no audiovisual do país e veja algumas obras que marcaram época.
A origem do Cinema Brasileiro
A história do cinema brasileiro começa em 1887, através dos irmãos Paschoal Segreto e Affonso Segreto, mas inicialmente com imagens de cidades europeias. As primeiras gravações do país só seriam apresentadas na década seguinte, também por eles, quando mostraram imagens da Baía de Guanabara, no Rio de Janeiro.
As transformações foram lentas e ao longo das primeiras décadas do século XX foram surgindo várias novidades. O primeiro filme de ficção brasileiro mesmo foi transmitido em 1908, a produção Os Estranguladores, feito pelo cineasta luso-brasileiro Antônio Leal. Uma obra de 40 minutos.
Já um longa-metragem, como estamos acostumados hoje, só foi exibido em 1914. Tratava-se de O Crime dos Banhados, do português Francisco Santos. Até então a grande maioria das histórias eram de crimes reais que aconteciam no Brasil.
Com o começo da Primeira Guerra Mundial, em 1914, as salas de cinema passam a ser dominadas por produções dos Estados Unidos. Uma tendência que ficaria para sempre.
A partir da década de 30 então podemos apontar que ocorre uma nova fase do cinema. Em 1930 é criado o primeiro grande estúdio cinematográfico no Brasil, o Cinédia. De lá saíram produções importantes como A Voz do Carnaval, de Ademar Gonzaga e Humberto Mauro, e Limite, de Mario Peixoto.
Já na década de 40, a companhia de cinema Atlântida faz sucesso com os filmes de gênero chamado de chanchada. Não confundir com as pornô-chanchadas, que falaremos mais à frente.
Essas chanchadas dos anos 40 eram produções cômico-musicais de baixo orçamento e tinham como principais destaques os atores Oscarito, Grande Otelo e Anselmo Duarte. Entre os filmes que fizeram sucesso estão Moleque Tião e Tristezas não pagam dívidas.
Ainda na década de 40, é criado o estúdio Vera Cruz, neste caso com foco em produções mais caras. Daqui saíram os filmes de Mazzaropi e O Cangaceiro, de Lima Barreto, que foi o primeiro filme brasileiro a ganhar o Festival de Cannes.
A história do cinema brasileiro também tem novidades na década de 50, quando surgem os primeiros filmes brasileiros a cores. Quem deu o pontapé inicial foi Destino em Apuros, de Ernesto Remani, com fotografia de H.B. Corel, que utilizava o sistema Ancoscolor. No entanto, o público considerou as cores de péssima qualidade, e a Multifilmes, que produziu o filme, sequer conseguiu recuperar os 6 milhões de cruzeiros investidos na obra.
Nos anos seguintes surgiram muitos outros filmes coloridos, usando outras tecnologias, como Meus Amores no Rio, Matemática Zero… Amor Dez, entre outros.
A partir do final da década de 50 e especialmente nos anos 60, o cinema brasileiro entra em uma terceira fase, chamada de Cinema Novo. Neste período surgiram os filmes mais focados em temas sociais e políticos.
O grande destaque nesta fase foi o cineasta baiano Glauber Rocha, que ficou famoso por obras como Deus e o Diabo na Terra do Sol (1964) e O Dragão da Maldade Contra o Santo Guerreiro (1968).
Ainda na década de 60 surgiu também outro movimento, que ficou conhecido como udigrúdi, que brincava com a palavra underground, que dominava a contracultura norte-americana. O movimento também ficou conhecido como um cinema marginal, com uma “estética do lixo”, como chamavam. Eram filmes que rejeitavam fórmulas tradicionais de narrativa e tiveram como destaques as obras O Bandido da Luz Vermelha e Matou a Família e foi ao Cinema.
Cinema durante a Ditadura e a era da Embrafilme
A história do cinema brasileiro também tem um capítulo importante durante a Ditadura. Em 1965 ocorre o golpe militar, e o Regime também trouxe efeitos para o cinema nacional. Em 1969, os militares criam a Embrafilme (Empresa Brasileira de Filmes). O objetivo dos militares era usar o cinema como ferramental de controle do Estado. O governo então passaria a financiar produções cinematográficas, desde que obviamente aprovadas por eles.
Só que com tantas limitações e censura, não havia espaço para filmes políticos ou com críticas sociais. Muitos artistas e cineastas inclusive já eram perseguidos ou pelo menos não eram bem vistos pela Ditadura.
Com isso, basicamente a única coisa que teve espaço nesta época foram as pornôchanchadas. Produções inspiradas em comédias italianas, com teor erótico. Foram muitos filmes que aproveitaram deste financiamento.
Porém, não saíram apenas conteúdos ruins. Foi em 1976, no auge da pornôchanchada, que o Brasil teve um grande sucesso, com o filme Dona Flor e Seus Dois Maridos (1976), do cineasta Bruno Barreto, que levou 10 milhões de pessoas ao cinema. Um número tão expressivo que só foi superado em 2010, com Tropa de Elite 2.
Crise e retomada do cinema nacional
A partir dos anos 80, o cinema brasileiro passa por uma crise. Na verdade, o país inteiro atravessava uma crise nos últimos anos da Ditadura. Nem o Governo tinha dinheiro para financiar, nem as produtoras tinham verba para produzir, e nem os espectadores tinham condições de assistir.
Essa crise se estendeu por muito tempo e piorou com a chegada de Fernando Collor ao poder, que acabou com o Ministério da Cultura e com a Embrafilme. Em 1992, foram lançados apenas três filmes brasileiros.
Com o cinema nacional produzindo pouco e ocorrendo a expansão das locadoras com produções internacionais, especialmente norte-americanas, surgiu a ideia — que persiste até hoje — de que o cinema nacional é ruim.
De fato foi um período com muitos filmes de baixa qualidade, mas a situação mudou com a fase que ficou conhecida como a Retomada do Cinema Nacional.
Antes dessa retomada, um dos poucos fenômenos era o sucesso dos filmes dos Trapalhões, com as aventuras de Didi, Dedé, Mussum e Zacarias, que tiveram 10 filmes com mais de 3 milhões de visualizações.
A Retomada do Cinema Nacional
Um grande salto da história do cinema brasileiro vem com a redemocratização. O Cinema de Retomada acontece na metade da década de 90, encerrando um longo período de crise e trazendo muitas produções de impacto.
Com a chegada de Itamar Franco ao poder, entre 1992 e 1993, foi criada a Secretaria para o Desenvolvimento do Audiovisual, que estruturou a Lei do Audiovisual, possibilitando a criação de diversos filmes.
Entre os longas que surgiram nesta parte da história do cinema brasileiro estão:
- Carlota Joaquina, Princesa do Brasil (Carla Camurati)
- O que é Isso, Companheiro? (Bruno Barreto)
- Central do Brasil (Walter Salles) – concorreu ao Oscar de melhor filme estrangeiro e rendeu a Fernanda Montenegro uma indicação a melhor atriz
Outro grande marco foi Cidade de Deus, indicado a quatro Oscars (melhor diretor, roteiro adaptado, fotografia e edição), além de ganhar o Globo de Ouro de melhor filme estrangeiro.
Pós-retomada e novas fases do cinema brasileiro
A partir de 2003, o cinema nacional entra em uma nova fase, deixando de ser classificado como parte da retomada.
A pós-retomada trouxe ainda mais qualidade, com produções de sucesso para a história do cinema brasileiro como:
- Carandiru
- Meu Nome Não É Johnny
- Tropa de Elite
- Minha Mãe é uma Peça
- Se Eu Fosse Você
- Que Horas Ela Volta?
- Bacurau
Na transição entre retomada e pós-retomada, destacam-se ainda:
- Bicho de Sete Cabeças
- Auto da Compadecida
- O Homem que Copiava
Leis de incentivo e participação nas bilheterias
O crescimento recente do cinema nacional contou com leis de incentivo, como:
- Lei Rouanet (Lei Federal de Incentivo à Cultura), criada em 1991.
- Lei de Cotas no Cinema, de 2001, que exige um número mínimo de dias para exibição de filmes brasileiros nas salas.
Graças a isso:
- Entre 1993 e 2018, a Lei Rouanet movimentou mais de R$ 50 bilhões;
- A participação dos filmes brasileiros nas salas passou de 3,5% em 1995 para pelo menos 10% desde 2003.
Segundo dados do Instituto de Cinema, o filme brasileiro de maior bilheteria é Minha Mãe é uma Peça, de Susana Garcia, protagonizado por Paulo Gustavo, com mais de 11 milhões de espectadores e R$ 143,9 milhões arrecadados. Completam o pódio:
- Tropa de Elite 2 (José Padilha)
- Se Eu Fosse Você 2 (Daniel Filho)
Pontos importantes da história do Cinema brasileiro:
- A Lei de Cotas garantiu pelo menos 10% de participação de filmes brasileiros em salas a partir de 2003.
- O cinema brasileiro começou em 1887 com imagens importadas.
- Primeiro filme de ficção: Os Estranguladores (1908).
- Primeiro longa-metragem: O Crime dos Banhados (1914).
- Primeiro brasileiro premiado em Cannes: O Cangaceiro.
- Crise grave nos anos 80 e 90: só 3 filmes lançados em 1992.
- Retomada do Cinema começa com Itamar Franco e Lei do Audiovisual.
- Central do Brasil e Cidade de Deus marcaram a virada.
- Minha Mãe é uma Peça é o maior sucesso de bilheteria do país.
- A Lei Rouanet movimentou R$ 50 bilhões entre 1993 e 2018.