Boicotes nas Olimpíadas Durante a Guerra Fria

Os Jogos Olímpicos são um evento de união entre continentes, como sugere a própria bandeira, mas também não deixam de lado a disputa e o aspecto comercial. Contudo, ao longo da história, muitas vezes o evento serviu para expor ainda mais os conflitos entre países. Isso ficou marcado principalmente nos boicotes nas Olimpíadas promovidos por Estados Unidos e União Soviética, que deixaram de competir no país rival durante a Guerra Fria. É sobre isso que vamos falar neste artigo.

Boicote devido ao Apartheid

Os principais boicotes dos Jogos Olímpicos ocorreram nas edições de 1980 e 1984, mas em 1976 também houve um boicote simbólico e pouco comentado. Naquela edição, Argélia, Nigéria, Egito e outros 22 países africanos decidiram boicotar a disputa de Montreal. Isso ocorreu porque na época a África do Sul vivia o auge do regime racista do Apartheid, promovendo terrível segregação.

A ONU havia pedido um embargo esportivo ao país, mas a Nova Zelândia desrespeitou o acordo e fez uma série de amistosos de rugby na África do Sul. Diante disso, os países africanos pediram a exclusão dos neozelandeses dos Jogos, e como não foram atendidos, decidiram não participar.

Os Jogos Olímpicos de 1936 e o Regime Nazista

Estados Unidos não foram na União Soviética

Quatro anos depois, ocorreu um boicote por um motivo totalmente diferente. Estados Unidos e União Soviética viviam o auge da Guerra Fria, competindo em diversas frentes, desde a corrida espacial até guerras em outros países, sem nunca se enfrentarem diretamente. Em 1980, os Jogos Olímpicos estavam marcados para Moscou, mas o presidente dos Estados Unidos, Jimmy Carter, pediu ao Comitê Olímpico Internacional para trocar a sede, alegando que a União Soviética havia invadido o Afeganistão.

Essa justificativa era irônica, pois os próprios Estados Unidos haviam invadido o Líbano e, posteriormente, a Granada. Como a sede não foi trocada, o governo norte-americano decidiu não participar dos Jogos, pressionando seus aliados e parceiros comerciais a fazerem o mesmo. Assim, países como Japão, Canadá, Alemanha Ocidental, Chile, Argentina e Uruguai também boicotaram. No total, 61 países atenderam ao pedido dos EUA.

A decisão não agradou a todos, especialmente aos atletas, que sequer foram consultados. Muitos lamentam até hoje por não terem participado das Olimpíadas no auge de suas carreiras. Além dos atletas, nenhuma emissora norte-americana cobriu o evento. O boicote dos EUA é ainda mais questionado porque, em 1936, cogitaram boicotar as Olimpíadas na Alemanha nazista, mas acabaram participando.

O troco da União Soviética

Em 1984, foi a vez do bloco comunista dar o troco, boicotando a edição de Los Angeles. Ao todo, 16 países, incluindo a União Soviética, alegaram riscos de segurança aos atletas e questionaram o financiamento dos EUA a ditaduras na América do Sul. Além dos países do bloco soviético, o Irã também decidiu não participar, acusando os Estados Unidos de interferirem no Oriente Médio.

A briga das Coreias

Em 1988, finalmente União Soviética e Estados Unidos voltaram a competir juntos, mas as Olimpíadas não ficaram livres de boicotes. A Coreia do Norte não participou por conta da relação hostil com a Coreia do Sul, anfitriã dos Jogos. Cuba, Nicarágua, Etiópia e Albânia acompanharam o boicote norte-coreano. Foi somente em 1992 que ocorreu a primeira Olimpíada livre de boicotes desde o início da Guerra Fria.

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