Muitas pessoas, principalmente da minha geração, fecham a cara só em ouvir a palavra “sindicato”. Curiosamente, boa parte dessa galera também nunca participou de nenhuma reunião sindical. No Brasil, o sindicato ainda é visto de uma forma muito negativa por diversas pessoas.
Porém, em alguns lugares, isso já tem começado a mudar, reflexo de muitas coisas que aconteceram nas décadas mais recentes. Por isso, vamos voltar lá atrás, na origem do sindicalismo, até chegar ao debate do cenário atual.
Revolução industrial iniciou tudo
A história do sindicalismo está totalmente ligada à Revolução Industrial e à expansão do capitalismo. A organização coletiva surge na substituição do homem pela máquina e na busca pela maximização do lucro em meio à exploração dos trabalhadores.
Dessa forma, os primeiros sindicatos surgem na Inglaterra, no século XVIII, em busca de melhores condições de trabalho, salários dignos e outros direitos. Em 1824, o parlamento inglês aprovou o direito à livre associação sindical, e os sindicatos se espalharam pelo país em diversos ramos industriais.
Sindicalismo no Brasil
No Brasil, isso levaria um pouco mais de tempo. Em 1888, já existiam algumas organizações de trabalhadores, porém foi apenas no começo do século XX que o formato de sindicatos começou a aparecer com a chegada de trabalhadores europeus que vieram para o país. Eles já tinham uma experiência de trabalho assalariado e tinham direitos conquistados em seus países de origem através dos sindicatos.
Os coletivos da classe operária, então, começaram a lutar por um salário mínimo, jornada de 8 horas diárias e a proibição do trabalho para menores de 12 anos. Foram através das lutas dos sindicatos que esses direitos foram conquistados, assim como também o décimo terceiro salário, férias, descanso semanal remunerado, hora extra, adicional noturno e outros benefícios.
O sindicalismo passou a ganhar destaque e conquistou muitos desses direitos com a chegada de Getúlio Vargas ao poder em 1930. No entanto, os sindicatos eram submetidos ao controle do estado. Com isso, era proibida a organização de sindicatos internacionais, e havia uma limitação dos operários estrangeiros nos sindicatos. Ainda assim, foi um período de avanços trabalhistas, com a consolidação das leis do trabalho e a criação dos institutos de Previdência Social.
Golpe Militar e o sindicalismo
O movimento sindical foi interrompido com o golpe militar de 1964. Porém, nos anos 70, já ganhava força nas fábricas do estado de São Paulo. A principal motivação dos sindicatos era cobrar reposição salarial, pois os trabalhadores sofriam com a corrosão salarial feita pela ditadura, o que reduziu o poder de compra ano após ano.
Diversas greves foram organizadas para que os pedidos dos trabalhadores fossem atendidos, mesmo que parcialmente. Neste momento, surgiram também a Central Única dos Trabalhadores e o Partido dos Trabalhadores, novas formas de organização desses operários.
Com a redemocratização e a Constituição de 1988, os sindicatos passaram a ter mais liberdade, não precisando mais da autorização do Ministério do Trabalho para o seu funcionamento. Na Constituição, foi estipulado também o imposto sindical obrigatório, que sempre foi alvo de muita polêmica e correspondia a um dia de trabalho do ano. Porém, isso foi encerrado em 2017 com a reforma trabalhista.
Sindicalismo nos dias de hoje
Nessas últimas décadas, por diversas vezes, o enfraquecimento dos direitos trabalhistas foi vendido como uma forma de garantir emprego e crescimento do país, mesmo que isso nem sempre acontecesse de fato.
Isso ocorria através de governos e também de campanhas das grandes mídias. Na outra ponta, estavam as organizações sindicais, que não tinham os mesmos espaços de divulgação.
É claro que é necessário pontuar que diversos sindicatos tiveram, sim, atuações ruins e que não conseguiram proteger os seus membros, muito também pela baixa adesão popular. Quem não cresceu vendo greves nos anos 70 e 80 e já obteve direitos adquiridos, não costuma ver o sindicato como um instrumento de luta.
A função do sindicato
Muita gente desconhece que ainda é através dos sindicatos que muitos trabalhadores conseguem aumento salarial com reposição da inflação. Isso porque, com exceção do salário mínimo, um aumento salarial não vem da política de governo, mas sim de negociação direta entre o sindicato e o empregador ou entre o empregado e o empregador.
Sem uma organização coletiva, os trabalhadores ficam ainda mais vulneráveis em tempos de crise. Negociando individualmente, o trabalhador tem muito menos condições de exigir aumentos e outros benefícios do que se estiver em grupo. Isso tem começado a gerar um movimento inverso em alguns lugares.
Uma pesquisa promovida pela Gallup nos Estados Unidos indicou níveis mais elevados de apoio a sindicatos desde a década de 60. Segundo a pesquisa, 71% dos trabalhadores norte-americanos já defendem a existência dos sindicatos.
Portanto, não é que todo sindicato vá existir de qualquer forma ou que todos mereçam apoio, mas é necessário que os trabalhadores consigam se organizar coletivamente em busca de melhores condições, especialmente para se protegerem das crises e da cobiça por lucros maiores de alguns empregadores.