Você sabia que existe uma história real de O Rei Leão? A animação é um clássico do cinema mundial. A história de Simba fugindo e voltando para reconquistar o reino é conhecida por milhões de pessoas. Mas você sabia que um cenário similar ocorreu no Império de Mali, no século XIII? Conheça a história de Sundiata Keita, o fundador do Império Malinês.
A Infância de Sundiata Keita
Sundiata Keita era filho do rei Naré Maghann Konaté, o que seria o “Mufasa da vida real”. Ele nasceu com uma deficiência e era incapaz de andar sem apoio. Ridicularizado por isso, entre hipóteses de feitiçaria ou superação, ele conseguiu se recuperar e começar a andar.
Segundo a tradição oral, o povo, ao ver Sundiata deixar cair a bengala e dar os primeiros passos, começou a gritar “abram alas para o Leão passar”, em referência ao seu nome, que significa “leão” na língua local.
A Disputa pelo Trono e o Exílio
Com o tempo, Sundiata conquistou grande prestígio entre o povo. No entanto, seu meio-irmão paterno, Dankaran Tourman, queria o trono para si. Após a morte do rei Naré Maghann Konaté, surgiram suspeitas de assassinato, o que levou sua mãe, Sogolon Kédjou, a fugir com o filho.
Enquanto isso, o povo mandinga foi dominado pelo opressor rei Soumaoro Kanté, do reino de Sosso, mergulhando a região em desordem e medo.
O Retorno do Leão de Mali
Com o domínio de Soumaoro Kanté, o povo mandou uma mensagem pedindo a volta de Sundiata para libertá-los e assumir seu lugar de direito como rei. Ele buscou alianças com o rei de Mena e formou um exército para enfrentar o opressor.
Em 1235, Sundiata liderou a guerra de libertação e, após a vitória, adotou o título de “Mansa”, que significa “rei” em mandinga. Ele não apenas derrotou o inimigo, mas também unificou os 12 reinos da África Ocidental, fundando o poderoso Império de Mali.
Um Império de Paz e Progresso
Sundiata Keita trouxe paz, estabilidade e prosperidade à região. Incentivou o comércio, fortaleceu a agricultura e consolidou uma estrutura política baseada na cooperação entre os clãs mandingas.
Durante seu reinado, que durou cerca de 20 anos, deixou como legado a Carta do Mandinga, considerada uma das primeiras constituições da história. O documento abordava justiça social, liberdade e direitos humanos — ideias que só se tornariam populares na Europa séculos depois, com o Iluminismo.
O Paralelo com O Rei Leão e a Invisibilização da História Africana
Embora não haja confirmação de que a Disney tenha se inspirado na história de Sundiata Keita, as semelhanças são notáveis: o jovem príncipe exilado, o reino usurpado, a redenção e a restauração da justiça.
A versão oficial diz que o filme O Rei Leão foi inspirado em Hamlet, de Shakespeare. No entanto, vale lembrar que, quando o filme foi lançado, a música clássica “Wimoweh” não creditava o compositor da versão original, o sul-africano Solomon Linda. O reconhecimento só veio em 2019, após muita polêmica.
Ignorar ou silenciar a história africana é um processo recorrente. A saga de Sundiata Keita, o verdadeiro Leão de Mali, mostra que a África tem narrativas de heroísmo, sabedoria e resistência muito anteriores às contadas pelo Ocidente.
