O esporte e a política se misturam, e isso tende a ocorrer exatamente pelo seu potencial de alcance. Em 1968, nas Olimpíadas da Cidade do México, o protesto dos Panteras negras ficou marcado para a história e levantou o debate sobre o racismo nos Estados Unidos. O episódio envolveu os atletas Tommie Smith e John Carlos, que fizeram história com um gesto que se tornou icônico.
Os esportistas do protesto
O grande ato ocorreu em 16 de outubro de 1968 e foi protagonizado por Tommie Smith e John Carlos. Dois atletas que faziam parte de uma associação chamada Projeto Olímpico pelos Direitos Humanos, que contava com o apoio de diversos esportistas. Eles conseguiram vagas nas Olimpíadas e decidiram competir em um contexto onde alguns atletas norte-americanos se recusavam a participar exatamente pelo racismo existente no país.
Um exemplo disso é a história de Jesse Owens, que em 1936 se tornou o primeiro atleta a ganhar quatro ouros em uma mesma Olimpíada, e mesmo assim foi discriminado ao voltar para casa.
Durante o evento de 1968, Smith correu os 200 metros e cruzou a linha de chegada em primeiro lugar, com o tempo de 19,83 segundos, faturando o ouro. John Carlos veio logo atrás, ficando com o bronze.
Na hora do pódio, ambos decidiram baixar a cabeça e erguer os punhos usando luvas pretas, em uma saudação aos Panteras Negras. Uma organização política, socialista e revolucionária dos Estados Unidos. Fundada dois anos antes com o principal objetivo de organizar a população negra para enfrentar a violência policial nas cidades.
Momento escolhido
O momento escolhido por Smith e Carlos foi um dos mais tensos na luta racial nos Estados Unidos. Era um período em que os racistas do país, tanto da população quanto do governo, estavam fazendo mais violentos ataques para evitar o fim da segregação racial.
Isso ocorreu porque três anos antes, Malcolm X havia sido assassinado, e poucos meses antes das Olimpíadas foi a vez de Martin Luther King ser assassinado — dois dos mais importantes ativistas contra o racismo nos Estados Unidos. Além disso, um ano antes, o pugilista Muhammad Ali havia perdido seus títulos por se recusar a participar da Guerra do Vietnã.
O ato corajoso de Tommie Smith e John Carlos é sempre lembrado, e suas imagens são repetidas nos Jogos Olímpicos até hoje. Depois disso, muitos outros esportistas passaram a protestar contra o racismo, ditaduras e outros conflitos sociais em seus países. No entanto, é importante lembrar que, embora hoje o gesto seja visto como um ato político importante do passado, na época, os dois atletas foram severamente atacados.
Atletas foram criticados
O Comitê Olímpico Internacional teve uma postura absurda, além de criticar o ato, expulsou os dois atletas da Vila Olímpica e ameaçou retirar suas medalhas. Ambos também foram criticados pela mídia norte-americana e passaram a ser ignorados pela Confederação Americana de Atletismo, comandada por brancos.
Com isso, mesmo sendo medalhistas, nunca mais tiveram a oportunidade de retornar aos Jogos Olímpicos e foram deixados de lado por muito tempo, até serem resgatados como símbolos da luta pelos direitos civis. Mesmo assim, a homenagem oficial só ocorreu em 2016, quando Barack Obama estava no poder.
Mas os dois não foram os únicos a sofrerem consequências. Peter Norman, o australiano que completou o pódio, usou um escudo do Projeto Olímpico pelos Direitos Humanos em solidariedade a Smith e Carlos.
Devido a esse pequeno ato, ao retornar à Austrália, onde o racismo também era forte. Norman foi ignorado pela confederação do país, sendo excluído dos Jogos de 1972, mesmo após ter feito índices olímpicos em 13 ocasiões. Em 2006, quando Peter Norman faleceu de um ataque cardíaco, Smith e Carlos viajaram até a Austrália para carregar seu caixão.