Um assunto que voltou à moda desde o governo Temer é a privatização. Nos últimos três ou quatro anos, ouvimos constantemente que devemos privatizar tudo. Mas será que os exemplos do nosso passado e dos países vizinhos mostram que a privatizações no Brasil é realmente benéfica?
Um dos principais argumentos em defesa da privatização é que empresas privadas são mais seguras e competentes. Mas será que a população de Brumadinho concorda com isso? Já são 244 mortos, além de centenas de desaparecidos, após o desastre da Vale. Em 2015, uma outra barragem já havia se rompido em Mariana, matando 19 pessoas. Em 2012, a Vale foi considerada a pior empresa do mundo pelo Greenpeace, devido aos danos ambientais em mais de 105 cidades brasileiras.
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Telecomunicações
Quem defende a privatização frequentemente cita o setor de telecomunicações, dizendo que o telefone ficou mais acessível. Mas até 1998, ano da privatização, telefone, celular e internet eram caros em qualquer lugar do mundo. Em 1994, existiam 13,3 milhões de linhas ativas no Brasil, representando 8,6% da população. Quatro anos depois, o número saltou para 21,2 milhões, um aumento de cerca de 40%, o que é semelhante ao crescimento do período anterior à privatização.
O mesmo vale para os celulares, que também se tornaram mais baratos em todo o mundo, não apenas no Brasil. Em 1998, havia 15,5 milhões de linhas de celular no Brasil. Hoje, são 228,6 milhões. No entanto, esse crescimento é menor do que o global, que foi acima de 7.000%. Além disso, no Brasil, o custo dos serviços ainda é um dos mais altos do mundo.
Correios
Outro caso de privatização em pauta é o dos Correios. Existe um mito de que há monopólio da empresa, mas isso só ocorre no envio de cartas, um serviço essencial de segurança nacional. Entregas de objetos podem ser feitas por empresas privadas, que muitas vezes não chegam a todas as cidades. A privatização dos Correios pode deixar muitas regiões desassistidas.
Países como os EUA ainda mantêm serviços estatais de entrega. Mesmo o Japão e a Alemanha, que privatizaram parte de suas empresas, ainda têm controle governamental. Já em setores básicos, como água, o Chile, que privatizou, sofre com o desabastecimento, com regiões recebendo até 80% menos do que no período estatal.
Privatizar nem sempre é sinônimo de qualidade. Quando privatizamos, o governo precisa exigir contrapartidas para que a população não seja prejudicada, evitando vender setores estratégicos sem garantias.