Os Jogos Olímpicos de 1936, realizadas na Alemanha de Adolf Hitler, foram possivelmente um dos eventos mais polêmicos da história dos Jogos Olímpicos. A decisão de realizar o evento em um país governado pelo regime nazista causou grande controvérsia e levou à possibilidade de boicote, principalmente pelos Estados Unidos, que consideraram não participar.
Alemanha escolhida pelo COI
Em 1931, antes de Hitler chegar ao poder, o Comitê Olímpico Internacional havia confirmado Berlim como a sede dos Jogos. Hitler assumiu o poder em 1933 e logo viu no evento uma oportunidade de mostrar ao mundo seu governo e sua ideologia de superioridade ariana.
Um dos primeiros passos do regime foi implementar políticas de exclusão nas práticas esportivas. Proibindo atletas judeus de usar instalações e de participar de associações esportivas, mesmo aqueles que eram campeões.
Debate por boicote
Quando as Olimpíadas se aproximavam, o mundo já sabia sobre a criação dos primeiros campos de concentração na Alemanha. Que aprisionavam judeus, ciganos, comunistas e outros considerados inimigos do regime. Isso gerou uma pressão internacional, com países como Estados Unidos, Reino Unido, França e Suécia cogitando um boicote em protesto contra o racismo e as violações aos direitos humanos cometidas pela Alemanha.
Nos Estados Unidos, o debate foi liderado pelo presidente da União Atlética Amadora, Jeremiah Mahoney. Ele argumentava que a Alemanha não respeitava as regras olímpicas, discriminando com base em raça e religião. Ele afirmava que a participação dos Estados Unidos significaria a aceitação do regime nazista.
Por outro lado, Avery Brundage, presidente do Comitê Olímpico dos Estados Unidos, visitou as instalações esportivas alemãs. Quando retornou, disse que os atletas judeus estavam sendo tratados de forma justa, afirmando que os Jogos deveriam continuar e que não se devia misturar política com esporte. Essa decisão de Brundage foi crucial para que os Estados Unidos participassem das Olimpíadas, levando outros países a seguirem o mesmo caminho.
Olimpíada como propaganda
Hitler usou o evento como uma vitrine para sua Alemanha, suspendendo temporariamente algumas atividades antissemitas. Como a remoção de placas que proibiam a entrada de judeus em locais públicos e a diminuição de perseguições durante os Jogos.
O objetivo era apresentar ao mundo uma imagem de uma Alemanha forte, organizada e superior. O responsável por promover essa imagem foi Joseph Goebbels, o ministro da propaganda nazista, que ordenou a produção de filmes para mostrar o sucesso da Alemanha nazista. A diretora Leni Riefenstahl foi encarregada de produzir essas filmagens.
Brilho de Jesse Owens
No entanto, o grande destaque dos Jogos de 1936 foi Jesse Owens. Um atleta negro dos Estados Unidos, que desafiou a narrativa de superioridade ariana de Hitler ao conquistar quatro medalhas de ouro. Owens venceu nas provas de 100 metros, 200 metros, revezamento 4×100 e salto em distância. Apesar de seu desempenho, Owens enfrentou o racismo em seu próprio país.
Nos Estados Unidos, os negros eram proibidos de frequentar certos lugares. De ir a universidades e de ocupar posições sociais em pé de igualdade com os brancos. Embora haja relatos de que Hitler não teria cumprimentado Owens após sua vitória, o próprio atleta afirmou que Hitler acenou para ele. Porém que o presidente dos Estados Unidos, Franklin Roosevelt, sequer enviou um telegrama de parabéns.
Panteras Negras: O Protesto Olímpico de 1968
Na volta para casa, Owens foi obrigado a sentar na parte de trás do ônibus que transportava os atletas norte-americanos. E em um evento de homenagem realizado em um hotel, teve que entrar pela porta dos fundos e usar o elevador de serviço. Três anos depois das Olimpíadas de 1936, a Alemanha invadiu a Polônia, dando início à Segunda Guerra Mundial.