Serra Pelada foi o maior garimpo a céu aberto do mundo. Em 1980, no coração da floresta amazônica, o fazendeiro Genésio Ferreira da Silva encontrou uma pepita de ouro em sua propriedade, a Fazenda Três Barras. A descoberta, no sudoeste do Pará, mudou o destino da região, que fica entre Carajás e o Araguaia.
Genésio mandou o material para averiguação e, depois, permitiu que 30 homens tentassem encontrar mais ouro de aluvião, que é o tipo encontrado em camadas superficiais da terra. A notícia rapidamente se espalhou e atraiu mais de 90 mil homens ao longo dos 12 anos que o garimpo foi explorado.
A exploração do ouro em Serra Pelada
Poucos meses após a descoberta, toda a vegetação foi retirada e a serra dividida em barrancos para exploração individual. A região então se tornou o maior garimpo a céu aberto do mundo e rendeu 42 toneladas de ouro aos cofres públicos. Em 1983, foi encontrada uma pepita de 36 kg.
No início da exploração, 10% da arrecadação era paga ao dono das terras, Genésio Ferreira da Silva. Com milhares de pessoas explorando o terreno, o governo militar não conseguiu garantir os direitos da Vale do Rio Doce sobre a extração mineral, já que muitos dos garimpeiros estavam armados.
Como solução, o governo instalou um posto da Caixa Econômica Federal em Serra Pelada para comprar o ouro diretamente dos garimpeiros, e nomeou o major Curió como interventor. Ele proibiu a entrada de mulheres, cachaça e armas na zona de trabalho.
Condições de trabalho e hierarquia entre os garimpeiros
Os garimpeiros viviam em condições precárias. Tinham que subir 200 degraus de escadas estreitas e improvisadas. O terreno era dividido em barrancos de 2 por 3 metros.
A estrutura social do garimpo era marcada por uma forte desigualdade:
- Capitalistas: donos dos barrancos, ficavam com quase todo o lucro.
- Meia-praça: indicava o local de escavação.
- Classe média: recebia entre 2% e 5% do ouro.
- Formigas: escavavam e carregavam o ouro, sendo pagas pelo transporte.
Para muitos, aquilo era a esperança de mudar de vida ao fazer uma grande descoberta.
Tragédias e repressões
Durante os 12 anos de exploração, o garimpo foi diversas vezes interrompido por chuvas e tragédias. Em 1983, uma coluna de terra despencou, matando 16 pessoas — episódio que se repetiu em outras ocasiões.
Também ocorreram muitas mortes causadas pela repressão policial, devido a protestos por melhores condições de trabalho, segurança ou pelo direito de continuar garimpando.
Um dos episódios mais violentos foi o Massacre da Ponte Marabá, onde 300 trabalhadores foram encurralados pela Polícia Militar. Apesar de não haver um número oficial, estima-se que dezenas tenham sido mortos.
O fim de Serra Pelada
Com o tempo, o ouro foi se tornando escasso. O buraco já chegava a 100 metros de profundidade, e a extração se tornava cada vez mais difícil.
O fim definitivo do garimpo aconteceu em 1992, durante o governo do presidente Fernando Collor de Mello.