História do Candomblé no Brasil

Você certamente já ouviu alguém falar que ‘macumba é coisa do diabo’ ou alguma demonstração de preconceito em relação a certas práticas religiosas. Isso se deve a um racismo histórico, afinal, muitas dessas religiões têm origens africanas e eram praticadas inicialmente por negros. Neste artigo, vou contar um pouco da história do Candomblé no Brasil.

Antes de começar, é importante fazer uma distinção que algumas pessoas já conhecem, mas nem todos. Primeiro, afirmar que determinada pessoa ‘é da macumba’ ou que ‘faz macumba’ é uma afirmação errada. A primeira definição de macumba é que se trata de um instrumento musical de percussão, uma espécie de reco-reco de origem africana, que faz um som específico. Com o tempo, o termo acabou sendo usado de forma pejorativa para se referir a essas religiões.

Origem do Candomblé

O Candomblé tem sua origem na mitologia iorubá, que teve seu epicentro no território de Ilê Ifé, uma região que hoje engloba a Nigéria, Benin e Togo. Estudos arqueológicos concluíram que essa cidade foi fundada por volta de 500 anos antes de Cristo. Agora, não é possível precisar exatamente quando começaram os cultos aos orixás, assim como também não é possível precisar quando exatamente nasceu o Candomblé.

O que se sabe é que os africanos trazidos como escravos para o Brasil praticavam a religião iorubá e tiveram que adaptá-la. A religião iorubá tinha centenas de orixás, enquanto o Candomblé no Brasil cultua 16 orixás, como Exu, Ogum, Oxóssi, Iemanjá, Xangô, entre outros, além do deus Olodumaré.

Esses orixás eram ancestrais divinizados, ou seja, pessoas que viveram há muitos anos e tinham poderes sobre a água, a terra, o ar, o fogo, entre outros elementos da natureza. Por isso, não existe uma definição de orixá bom ou mau. Assim como os seres humanos, eles possuem defeitos, qualidades e características próprias.

Racismo religioso

Voltando à questão do racismo: se você já leu ou ouviu sobre Thor, o deus nórdico dos trovões, ou Poseidon, o deus grego dos mares, não há motivo para achar algo de errado com os orixás da mitologia africana. No entanto, por conta da forma como os africanos foram trazidos para o Brasil e espalhados por Bahia, Rio de Janeiro e outras regiões, não há uma única maneira de praticar o Candomblé, resultando em algumas variações.

Basicamente, em todas as práticas, ocorrem rituais com festas, oferendas, comidas, batuques, músicas e danças. O ritual busca atrair os ancestrais e orixás, e as danças têm o papel de contar histórias e mitos, sendo fundamentais em qualquer celebração. Os rituais são conduzidos por um pai de santo ou mãe de santo, e um ponto importante é a comida, que, além de ser um ato de socialização, é oferecida ao público, simbolizando também resistência em relação à época da escravidão.

Ao contrário do que algumas pessoas dizem, o Candomblé não usa animais domésticos nos rituais. Os animais utilizados são simples e podem ser encontrados em açougues, e não há o objetivo de fazer o animal sofrer. Tudo é feito de forma a respeitar a tradição, semelhante a cerimônias de outras religiões.

Intolerância religiosa e o racismo andam juntos

A atuação no Candomblé

Também é importante esclarecer que os praticantes do Candomblé não atuam para causar danos. Todas as manifestações são feitas com o intuito de ajudar as pessoas a alcançar seus objetivos e receber orientações dos orixás. Devido ao preconceito, o Candomblé teve que resistir a todos os tipos de ataques ao longo da história.

Logo no início, os escravos não podiam cultuar suas divindades, pois a religião oficial era o catolicismo, e qualquer outro culto era considerado um crime. Para conseguirem praticar suas crenças, os escravos associaram os orixás aos santos católicos: Ogum era São Jorge, Iansã era Santa Bárbara, e assim por diante. Já na República, o Código Penal incriminava o curandeirismo e a feitiçaria, o que permitia a prisão de membros de religiões de matriz africana, como o Candomblé.

A situação só melhorou com a Constituição de 1988, que passou a considerar a intolerância contra religiões africanas como uma das faces do racismo. A perseguição, no entanto, continuou. Em 2018, houve 213 denúncias de intolerância religiosa contra religiões de matriz africana no Brasil, incluindo casos de destruição de terreiros e agressões.

É importante compreender que a intolerância religiosa está ligada ao racismo e à desinformação. Então, se você quiser conhecer algo, procure saber com um praticante antes de reproduzir o que ouviu de outra pessoa. E claro, respeite quem tem uma crença diferente da sua.

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