A Guerra do Vietnã foi um conflito armado de grande escala que ocorreu no Vietnã, Laos e Camboja, estendendo-se de 1º de novembro de 1955 até a queda de Saigon em 30 de abril de 1975. Este conflito opôs o Vietnã do Norte, apoiado pela União Soviética, China e outros aliados comunistas, ao Vietnã do Sul, que contava com o apoio dos Estados Unidos, Coreia do Sul, Austrália, Tailândia e outras nações anticomunistas.
A Guerra do Vietnã é frequentemente descrita como uma guerra por procuração entre os Estados Unidos e a União Soviética no auge da Guerra Fria. No entanto, essa descrição costuma simplificar e apagar o que estava em jogo para o povo vietnamita: a libertação de um século de dominação colonial e a luta pela autodeterminação nacional.
Contexto Histórico
O Vietnã, antes da guerra, era parte da Indochina Francesa, uma colônia que incluía também o Laos e o Camboja. Durante a Segunda Guerra Mundial, o Japão ocupou a região, enfraquecendo o controle francês.
Após a rendição japonesa em 1945, o líder nacionalista e comunista Ho Chi Minh declarou a independência do Vietnã e estabeleceu a República Democrática do Vietnã no norte. A França, porém, tentou restabelecer seu domínio, levando à Primeira Guerra da Indochina (1946-1954). Este conflito culminou na derrota francesa em Dien Bien Phu em 1954 e nos Acordos de Genebra, que dividiram temporariamente o Vietnã em Norte (comunista) e Sul (anticomunista), com eleições de reunificação previstas para 1956.
A Divisão do Vietnã e o Papel dos EUA
Embora a divisão fosse anunciada como provisória, os Estados Unidos impediram que as eleições nacionais previstas para 1956 acontecessem, pois sabiam, a partir de relatórios internos, que Ho Chi Minh venceria com ampla maioria — possivelmente mais de 70% dos votos. Assim, os EUA bloquearam a reunificação democrática e instalaram no Sul o governo de Ngo Dinh Diem, um regime profundamente autoritário e dependente do apoio militar e financeiro norte-americano.
Portanto, a guerra não nasceu de uma disputa interna espontânea, mas de uma interrupção forçada do processo de independência nacional vietnamita, com os EUA assumindo o papel de nova potência interventora no lugar da França.
Causas da Guerra
As causas da Guerra do Vietnã estavam enraizadas no colonialismo, na luta pela unificação e no contexto da Guerra Fria.
- Divisão e Teoria do Dominó: A divisão imposta e a sabotagem das eleições pelos EUA consolidaram artificialmente um Estado no Sul, sustentado por interesses externos. A justificativa dos EUA era impedir que o Vietnã se unificasse sob um governo socialista.
- Intervenção Estrangeira: A presença americana, iniciada como apoio militar indireto, escalou para envio massivo de tropas.
- Nacionalismo e Soberania: Para o Norte e para o Viet Cong, a guerra era a continuação da luta histórica contra colonizadores, agora contra os EUA.
- Natureza Ideológica da Guerra: Cada lado via o conflito como parte de uma disputa global de sistemas políticos.
Base Social da Resistência
A resistência vietnamita, especialmente no campo, não foi apenas comunista no sentido ideológico, mas profundamente camponesa.
O Viet Cong apoiava e organizava reforma agrária e redistribuição de terras, enquanto o governo do Vietnã do Sul mantinha grandes latifúndios e reprimia movimentos rurais, religiosos e estudantis.
Por isso, a guerrilha não era um corpo estranho à população — ela era a própria população em luta.
O Conflito
A Guerra do Vietnã passou por várias fases:
- Fase de Assessoria (1955-1964): Envio de assessores e apoio econômico dos EUA.
- Escalada Americana (1964-1968): Com o pretexto do Incidente do Golfo de Tonkin, os EUA iniciaram bombardeios sistemáticos e enviaram mais de 500 mil soldados.
- Ofensiva do Tet (1968): Embora militarmente desfavorável ao Norte, expôs ao mundo que o exército dos EUA não controlava o território. Isso destruiu a narrativa de vitória iminente e detonou o movimento antiguerra dentro dos próprios EUA.
- Vietnamização e Retirada (1969-1973): Diante do desgaste, os EUA tentaram transferir o combate ao exército sul-vietnamita e expandiram a guerra para Laos e Camboja.
- Acordos de Paris e Queda de Saigon (1973-1975): Com a saída dos EUA, o regime do Sul não se sustentou. Em 1975, Saigon é libertada e o Vietnã é reunificado.
Brutalidade da Intervenção Americana
A tentativa dos EUA de impedir a vitória vietnamita levou ao emprego de práticas de guerra extrema.
O Massacre de My Lai (1968) expôs ao mundo a execução de civis desarmados, incluindo mulheres e crianças.
O uso do Agente Laranja e outros desfolhantes químicos destruiu plantações, florestas e gerou doenças e malformações que ainda afetam gerações.
Bombardeios massivos deixaram milhões de mortos e até hoje há bombas não detonadas que mutilam civis.
Consequências e Impacto
- Para o Vietnã: Vitória na reunificação, mas com enormes perdas humanas e materiais.
- Para os EUA: Derrota política e moral que abalou o poder imperial.
- Impacto Global: O Vietnã tornou-se símbolo mundial de resistência anti-imperialista.
