Em fevereiro de 1984, ganhava força um dos maiores movimentos da história do Brasil: o Diretas Já. O objetivo era acabar com a ideia conservadora de uma transição feita pela ditadura militar e devolver o poder do voto aos brasileiros, que não escolhiam um presidente desde 1960.
Entre 1978 e 1979, a ditadura militar já caminhava para o seu final. Foi extinto o AI-5, que representava a repressão do governo militar, e, durante o governo Figueiredo, foi aprovada a Lei da Anistia ampla, geral e irrestrita, que permitiu o retorno de opositores exilados. No entanto, essa anistia também protegeu os militares que torturaram e mataram durante o regime, deixando-os impunes até hoje. Essa lei acabou sendo vista como um ‘cavalo de Troia’.
Militares queriam mais poder
O fim da ditadura não foi fácil. Alguns militares queriam evitar a redemocratização e organizaram diversos atentados, como o do Riocentro, onde uma bomba explodiu antes de um evento, matando os próprios militares que a carregavam. O governo escondeu o ocorrido como questão de segurança nacional, afastando Figueiredo do processo de abertura política. Com a volta de políticos exilados, surgiu a mobilização por eleições diretas em 1983. O PMDB e o PT exigiram mudanças na sucessão presidencial.
Dante de Oliveira lançou uma emenda para eleições diretas, que uniu não só o MDB e o PT, mas também outros partidos. No entanto, como o Congresso ainda tinha maioria militar, a chance de sucesso era pequena. Foi criado, então, o movimento Diretas Já, para atrair o apoio popular e pressionar o governo. A campanha foi impulsionada pela insatisfação popular com a inflação de mais de 200% e com a corrupção.
Caravana das Diretas
Em fevereiro de 1984, Lula, Ulysses Guimarães e Brizola iniciaram a ‘Caravana das Diretas‘, percorrendo mais de 22 mil quilômetros em 15 estados do Norte, Nordeste e Centro-Oeste. As mídias tradicionais inicialmente ignoraram, mas não conseguiram manter essa postura quando o movimento chegou ao Sudeste. No Rio, o movimento reuniu mais de 1 milhão de pessoas e, em São Paulo, 1,5 milhão, com apoio de jogadores como Sócrates e artistas como Chico Buarque e Fernanda Montenegro.
Mesmo com grande apoio popular, a emenda Dante de Oliveira foi rejeitada em 25 de abril de 1984. O governo militar decretou estado de emergência, mobilizando mais de 6 mil soldados ao redor do Congresso. Com 298 votos a favor, a proposta ficou a 22 votos da aprovação, já que 113 políticos não compareceram. Esse resultado gerou grande decepção, e muitos temeram que a redemocratização não ocorresse.
A eleição passou a ser indireta, e Tancredo Neves foi escolhido como candidato, costurando alianças com o PMDB, o PP e o PDS. Ele escolheu Sarney como vice, ex-presidente do PDS, o partido militar. Apenas o PT se recusou a participar, pois considerava a transição conservadora. Como sabemos, Tancredo Neves venceu, mas faleceu antes da posse, assumindo Sarney.
A eleição direta só foi garantida na Constituição de 1988, liderada por Ulysses Guimarães.