Nós estamos acostumados a ver histórias de superação de atletas brasileiros nos Jogos Olímpicos. Um desses casos é de Aída dos Santos, que fez história e foi abandonada até pela delegação brasileira justamente em Tóquio, na edição de 1964.
Quem foi Aída dos Santos
Aída dos Santos nasceu em 1º de março de 1937 e teve uma infância muito pobre no Morro do Arroz, em Niterói. Filha de um pedreiro e uma lavadeira, ambos analfabetos, ela teve que trabalhar desde cedo para ajudar no sustento da casa.
Em 1956, aos 19 anos, entrou na Escola Técnica Aurelino Leal, onde praticava voleibol, e aos domingos ia para o ginásio do Caio Martins, acompanhada de uma amiga que treinava atletismo. Essa amiga insistiu para que Aída também fizesse atletismo, e como havia dificuldade em formar times de vôlei, ela acabou aceitando a recomendação e passou a treinar salto.
Nos primeiros treinamentos, Aída já se destacou, chegando próxima dos recordes estaduais. No entanto, enfrentou todos os tipos de discriminação, tanto por ser mulher em um esporte que a sociedade não via como indicado para o ‘sexo frágil’, quanto por ser pobre e negra.
Além disso, muitas vezes competiu em locais mais elitizados, com competidores de classes sociais mais altas. Mesmo dentro de casa, Aída enfrentou resistência por seguir um esporte que não era visto como promissor financeiramente.
Jogos Olímpicos de Tóquio
Ainda assim, Aída seguiu em frente e fez história ao se classificar para os Jogos Olímpicos de Tóquio em 1964, para competir no salto em altura. Mas sua classificação não foi qualquer uma: ela foi a única mulher brasileira a garantir vaga para a competição. No entanto, o preconceito veio até mesmo do próprio Comitê Olímpico Brasileiro, que a obrigou a repetir a seletiva cinco vezes, mesmo após alcançar o índice olímpico de 1,65 metro.
Já em Tóquio, Aída foi abandonada pelo comitê, sem material, técnico ou qualquer tipo de apoio. Ela teve que correr atrás de uniformes para a cerimônia de abertura e para a competição, e até mesmo os calçados que utilizou foram conseguidos com a ajuda de atletas cubanos, que a ajudaram a encontrar um par adequado. Durante as eliminatórias, Aída sofreu uma lesão no pé e, mais uma vez, não recebeu auxílio da delegação brasileira. Outros atletas brasileiros chegaram a ironizar sua participação, chamando-a de turista.
Apesar de todas as dificuldades, Aída conseguiu ficar em 4º lugar no salto em altura, com a marca de 1,74 metro, apenas 4 cm abaixo da medalha. Esse foi o melhor desempenho individual de toda a delegação brasileira naquela edição.
Por mais de três décadas, ela manteve o título de brasileira com o melhor desempenho em Jogos Olímpicos. Até ser superada por Sandra Pires e Jaqueline Silva em 1996, com a conquista de uma medalha no vôlei. No caso de esportes individuais, seu feito só foi superado em 2008, com o bronze de Ketleyn Quadros no judô.
Carreira de Aída
Ao longo de sua carreira, Aída passou pelo Fluminense, Vasco da Gama e Botafogo, e garantiu a medalha de bronze nos Jogos Pan-Americanos de 1967. Em 1971, após competir, formou-se em Educação Física e foi dar aulas, lecionando na Universidade Federal Fluminense entre 1975 e 1987. Além disso, fundou o Instituto Aída dos Santos, que busca promover inclusão social por meio do vôlei e do atletismo, oferecendo reforço escolar, apoio psicológico e assistência social.
Aída também passou seu espírito esportivo adiante, sendo mãe de Valeskinha, campeã olímpica de vôlei nos Jogos de Pequim em 2008. Somente agora, em 2021, Aída dos Santos recebeu um uniforme dos Jogos Olímpicos. Em uma campanha de uma marca de artigos esportivos, que convidou a estilista Carol Barreto para produzir esse uniforme inédito.
A entrega do uniforme aconteceu na pista de atletismo do Estádio Olímpico Nilton Santos, no Rio de Janeiro, e foi registrado em um documentário chamado O Uniforme que Nunca Existiu.