Mesmo quem não é do Rio de Janeiro já ouviu falar da Cidade de Deus. Ela já havia sido representada no rap de Cidinho e Doca nos anos 90. No entanto, foi com o filme de 2002 que a região passou a ser conhecida em todo o Brasil e até mesmo no exterior. Neste artigo, você vai conhecer um pouco mais sobre a origem do bairro.
A Cidade de Deus surgiu na década de 1960 como um projeto do governador Carlos Lacerda para afastar a população mais pobre. Principalmente os moradores de favelas da Zona Sul, das áreas mais nobres da cidade. Para isso, ele desenvolveu um projeto de construção de um grande conjunto habitacional em Jacarepaguá. Naquela época, a região era pouco desenvolvida e distante do centro do Rio de Janeiro. Sem a linha Amarela, principal via de conexão, e com a Barra da Tijuca ainda pouco habitada.
Troca de favelas
O projeto tinha como objetivo deslocar pessoas de seis favelas principais: Praia do Pinto, Parque da Gávea, Ilha das Dragas, Parque do Leblon, Catacumba e Rocinha. As obras da Cidade de Deus começaram em fevereiro de 1965. No entanto, uma enchente em janeiro de 1966 fez com que o governador Negrão de Lima autorizasse a transferência de pessoas desabrigadas para a Cidade de Deus em março daquele ano, mesmo com as obras ainda inacabadas.
Em 1968, o projeto foi concluído, mas ainda faltava infraestrutura básica, como o asfaltamento das ruas e a instalação de redes de esgoto. Em 1969, ocorreu um incêndio na favela da Praia do Pinto, que destruiu mais de mil barracos e deixou cerca de 9 mil pessoas desabrigadas, resultando na realocação forçada de muitos para a Cidade de Deus.
A situação dos novos moradores era difícil. Já que a região era isolada, e as pessoas tinham que caminhar por cerca de uma hora para chegar ao ponto de ônibus mais próximo e ainda enfrentar longas viagens até o centro ou a Zona Sul. Na década de 1970, entrou em ação um plano urbanístico de Lúcio Costa, que desenvolveu a Barra da Tijuca e outros bairros próximos, como Taquara e Curicica.
Transformações na região
A Cidade de Deus se tornou um bairro independente em 1981, mas o desenvolvimento desordenado e o descaso do poder público levaram ao crescimento irregular e ao aumento da violência nas décadas de 1980 e 1990. Segundo o censo de 2000, mais de 48 mil pessoas moravam na Cidade de Deus. O local recebeu esse nome, e as ruas com nomes bíblicos, provavelmente sugeridos por Dom Helder Câmara ou pela secretária de serviços sociais Sandra Cavalcante, desde o início do projeto.
Apesar do nome, o bairro teve pouco tempo de paz e convive com a violência há décadas. Mesmo com a ineficiência do poder público, a Cidade de Deus se desenvolveu como pôde e revelou muitos talentos, especialmente na cultura.