Você certamente conhece as marchinhas de carnaval: ‘O Abre-Alas’, ‘Mamãe Eu Quero’, entre outras. Confira neste artigo um pouco da história e das questões sociais ligadas a elas.
As atividades relacionadas ao carnaval no Brasil são realizadas desde o século 16, nos dias que antecedem a Quaresma. Por volta da década de 1830, passamos a ver o carnaval moderno mais semelhante ao que vemos até os dias de hoje. Só que a marchinha de carnaval ainda demorou muito mais tempo para aparecer.
Até então, no período, eram cantadas músicas sem qualquer sentido carnavalesco, como valsas, maxixes, cantigas de roda e até mesmo trechos de ópera. Por isso, já existia entre os participantes uma vontade por uma cantiga própria.
Chiquinha Gonzaga
Em 1899, o cordão Rosa de Ouro, no Rio de Janeiro, procurou a maestrina Chiquinha Gonzaga para pedir uma composição própria para o desfile. Surge então o tradicional ‘O Abre-Alas’, que é, portanto, a primeira canção carnavalesca brasileira e é tocada até hoje em bailes e blocos de rua.
Apesar do sucesso dessa primeira obra, as marchinhas de carnaval só começaram a se popularizar mesmo nas décadas de 1920 e 1930. Nesta época, mais compositores surgiram, como Dalva de Oliveira, Lamartine Babo, Noel Rosa, Haroldo Lobo, entre outros. Que apresentaram marchinhas marcantes, como ‘Moleque Indigesto’, ‘Pierrot Apaixonado’, ‘Mamãe Eu Quero’, entre muitas outras que são cantadas até os dias de hoje.
Motivos para o sucesso
A primeira razão para o sucesso é que se tratavam de letras curtas e de grande apelo popular, quase sempre ligadas a costumes e acontecimentos, o que fazia com que caíssem facilmente na graça do povo. Outro fator facilitador para a disseminação foi o uso da Rádio Nacional durante o governo de Getúlio Vargas para se comunicar com as massas. Vargas usou de elementos populares para se conectar com o povo, e isso incluía, obviamente, o carnaval.
Com o tempo, as marchinhas foram perdendo espaço na rádio para outros gêneros musicais, mas os blocos e cordões de carnaval já faziam todo o trabalho de divulgá-las e espalhá-las pelas ruas das cidades.
Um ponto a ser observado é que, embora o objetivo das marchinhas seja sempre a diversão e a festa, muitas delas debateram questões sociais importantes, como as habitacionais, que sempre foram um problema, especialmente no Rio de Janeiro. Isso foi visto na marcha do ‘Caracol’ de Peter Pan e Afonso Teixeira.
Política e marchinhas
A política também não ficou de fora, e um pedido de retorno por Vargas foi feito em 1951 com ‘Retrato do Velho’, de Haroldo Lobo e Marino Pinto. Várias outras marchinhas foram feitas, especialmente nos dias atuais, criticando os mais diversos políticos no Brasil. Também ocorre o caminho inverso, em que marchinhas são feitas por outros motivos, mas acabam sendo utilizadas para ironizar cenas políticas, o que contribui para que fiquem ainda mais famosas.
Uma dessas marchinhas históricas é ‘Me Dá Um Dinheiro Aí’, feita pelos irmãos Homero Ferreira, Glauco Ferreira e Ivan Ferreira, que foi gravada por Moacyr Franco. Ela já era um sucesso no carnaval, mas ganhou outro patamar em 1959.
Quando o Jornal do Brasil publicou uma foto do presidente Juscelino Kubitschek recebendo uma comitiva dos Estados Unidos e, com a mão estendida, parecia que ele estava pedindo dinheiro emprestado. Na chamada da foto, o jornal colocou exatamente a frase principal da marchinha, ‘Me Dá Um Dinheiro Aí’, o que acabou popularizando ainda mais a canção.
Portanto, as marchinhas, assim como o carnaval como um todo, são um retrato da história do Brasil e do povo brasileiro.