O Brasil é um país laico, mas sua história é profundamente ligada às igrejas. Embora a religião mais influente tenha mudado ao longo do tempo, as igrejas frequentemente interferem nos níveis federal, estadual e municipal. Ás vezes ignorando até mesmo a Constituição. Este problema é antigo, e vamos recapitular essa trajetória da influência religiosa nos governos brasileiros.
Influência católica
O Brasil nasceu como um país católico, herdando isso de Portugal. No período colonial, as decisões do Estado, como a própria escravidão, tinham a aprovação da Igreja Católica. A separação formal entre Igreja e Estado só aconteceu em 1891, com a Constituição da República, mas, na prática, a influência católica continuou forte na política.
Foi o arcebispo Dom Sebastião Leme que convenceu Washington Luís a renunciar em 1930. Evitando uma guerra civil, e a influência católica moldou a Constituição de 1934, por meio da Liga Eleitoral Católica, que orientava os fiéis em suas escolhas eleitorais.
Na década de 30, a Igreja conseguiu aprovar leis importantes para ela, como a proibição do divórcio e a validade do casamento religioso no âmbito civil. Além disso, o Estado começou a financiar as igrejas e tornar o ensino religioso obrigatório nas escolas públicas. Essas medidas continuaram até a ditadura militar, quando qualquer atuação religiosa precisaria de autorização direta do presidente.
A partir de 1974, com orientações do Vaticano, a Igreja Católica brasileira se aproximou dos trabalhadores e passou a se posicionar contra o regime militar, o que levou a Igreja a ser perseguida. Nos anos 80, o protagonismo religioso começou a migrar para as igrejas evangélicas, que buscavam representação no Congresso. Desde então, eles têm promovido os chamados ‘princípios cristãos’, se posicionando contra o casamento homoafetivo e o aborto, além de defender os valores tradicionais.
Bancada evangélica
Com apoio crescente, os evangélicos passaram a formar a ‘bancada evangélica‘ no Congresso e a lutar contra qualquer ideia que divergisse de suas crenças. A influência política evangélica não se restringe a um único espectro político. Houve apoio tanto à esquerda quanto à direita, variando com os interesses de momento. A Igreja Universal, por exemplo, apoiou desde Collor até Jair Bolsonaro.
Hoje, os políticos ligados às igrejas evangélicas não apenas se posicionam contra pautas como o casamento homoafetivo e o aborto, mas também tentam influenciar a educação pública. Determinando o que professores podem ou não ensinar. Vale lembrar que o Estado laico não é contrário às religiões. Na verdade, ele protege a convivência harmoniosa de todas as crenças e garante que as leis sejam criadas pensando na sociedade como um todo, e não em uma única fé.