Envolvidos na CPI da Covid aparecem em nova fraude bilionária no INSS iniciada no governo Bolsonaro

Fraude no INSS teria causado prejuízo de R$ 6,3 bilhões e envolve nomes ligados ao esquema da vacina Covaxin, investigado pela CPI da Covid durante o governo Bolsonaro.

Dois nomes que ganharam notoriedade durante a CPI da Covid voltam a ser citados em novo escândalo: Maurício Camisotti e Danilo Trento. Segundo a Polícia Federal, ambos são alvos de uma investigação que apura uma fraude bilionária no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), que teria começado ainda durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro.

A operação da PF aponta que o esquema teria causado um rombo de R$ 6,3 bilhões aos cofres públicos entre 2019 e 2024, atingindo aposentados e pensionistas com descontos indevidos em seus benefícios.

Ligação com a CPI da Covid e o caso Covaxin

Maurício Camisotti e Danilo Trento já haviam sido investigados pela CPI da Covid por suspeita de envolvimento na tentativa de compra superfaturada da vacina indiana Covaxin, durante a gestão Bolsonaro. À época, a vacina era negociada por R$ 80,70 a dose, valor quatro vezes maior que o das vacinas compradas da Fiocruz, como a AstraZeneca. O contrato, negociado pela empresa Precisa Medicamentos, foi suspenso após denúncias de corrupção e ausência de documentação básica exigida para segurança jurídica.

Camisotti foi apontado como financiador oculto da Precisa Medicamentos, tendo feito uma transferência de R$ 18 milhões à empresa. Já Danilo Trento chegou a viajar à Índia para participar das tratativas, segundo revelou a CPI. Ambos foram mencionados no relatório final como integrantes de um grupo que teria atuado para favorecer negócios obscuros com o Ministério da Saúde durante a pandemia.

Esquema no INSS também começou no governo Bolsonaro

O que mais chama atenção dos investigadores é o fato de que a fraude no INSS começou a se estruturar em 2021, ainda durante o governo Bolsonaro, em paralelo às investigações da CPI da Covid. Documentos da Polícia Federal revelam que, naquele ano, a Ambec (Associação dos Aposentados Mutualistas para Benefícios Coletivos) — da qual Camisotti seria sócio oculto — firmou um acordo com o INSS que permitiu descontos diretos nos benefícios de aposentados e pensionistas.

Entre 2019 e 2024, a Ambec movimentou R$ 178 milhões e acumula mais de 2 mil reclamações. A suspeita é de que o esquema se utilizava de autorização legal para aplicar cobranças indevidas e lucrar com a fragilidade dos beneficiários.

Imagens, malas de dinheiro e envolvimento de agentes públicos

A participação de Danilo Trento também foi flagrada em imagens de câmeras de segurança no aeroporto de Congonhas, onde ele circulava por áreas restritas com malas e em companhia de Philipe Roters Coutinho, policial federal, e Virgílio de Oliveira Filho, ex-procurador-geral do INSS.

Durante buscas, a PF encontrou US$ 200 mil em espécie (aproximadamente R$ 1,1 milhão) na casa do policial federal, que é acusado de fazer escolta dos envolvidos para facilitar o trânsito do dinheiro de propina.

Parlamentares pedem nova CPMI

Diante das revelações, a oposição protocolou um pedido formal para criação de uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI), com o objetivo de investigar profundamente a fraude no INSS, que atingiu milhões de beneficiários da Previdência Social. O governo federal já anunciou que iniciará um cronograma de ressarcimento para os aposentados prejudicados.

Defesas negam envolvimento

Em nota, a defesa de Maurício Camisotti afirmou que ele “atua na área da saúde com projetos que beneficiaram milhões de pessoas” e que não houve qualquer envolvimento na compra de vacinas ou em fraudes com aposentadorias. A defesa de Danilo Trento ainda não foi localizada.

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